segunda-feira, 17 de outubro de 2011

''.........hey I love you... *-----------------*

Do lado de fora, a garoa rega as flores enquanto o vento bate forte nas portas e janelas, como se pedisse permissão para entrar. Do lado de dentro, perambulo pelos cômodos da casa, vendo e revendo vezes sem conta se existe alguma chance do frio entrar. Não queria o frio. Com ele vinham as sombras que expulsariam toda a felicidade que se alojou quando você entrou. Desde então, tenho cuidado para não perdê-la. A felicidade é viciante, tinha medo de usá-la de uma só vez e não ter tempo de aproveitar. Assim, guardei-a na gaveta, desfrutando-a um pouco à cada dia. Três e meia. Estava quase na hora. Colocava os objetos num lugar, para logo depois devolvê-los em outro. “Paciência é uma virtude” era a frase que me vinha na cabeça sempre que olhava aqueles ponteiros - tão calmos, tão singelos - tão frustrantes. Conforme os segundos passavam, a ansiedade aumentava e o barulho do vento era mais forte. Sentei no sofá, as costas eretas, ora olhando para a porta, ora fechava os olhos pedindo baixinho para, por favor, não deixar o vento invadir a casa, para, por favor, eu ter forças para expulsar meus medos. Mas, principalmente, eu pedia para que você logo entrasse e me tomasse nos braços. Aquela era a melhor hora do dia - quando você chegava e compartilhava comigo olhares, toques e sonhos. Era quando eu me completava, depois de passar um dia inteiro pela metade, lutando com inimigos invisíveis que eu mesma criara. Você me transformava, em apenas um gesto, em uma menina sonhadora que era capaz de enfrentar o mundo só para ganhar seu abraço. Ouvi batidas na porta. Desta vez, sabia que não era o vento pedindo para entrar. Caminhei à passos lentos, aproveitando aquela sensação boa do antes. Eu ansiava para te ver, mas gostava ainda mais de andar até a porta sabendo que você estaria do outro lado. Pensava nos mil olhares que você poderia me dar e no sorriso que derreteria meu coração. Perguntava-me o que é que você me diria quando abrisse a porta e nossos olhares se cruzassem, se seria casual ou tempestuoso, se me acalmaria ou agitaria. Apenas sabia que não seria normal. Porque, meu amor, quando o assunto é nós, nada nunca é. À cada segundo nasce uma sensação nova melhor que a anterior. Isso que me dava certeza que esse amor era pra vida inteira. Abri a porta observando cada detalhe, deixando seus olhos por último. Quando os encontrei, senti tudo - alegria, alívio, amor. Todos os dias, exatamente às quatro, eu sabia que seria completa. Quando nossos olhares se cruzaram, meu amor, o vento passou de ameaça, para mero espectador do nosso amor. 
"Aquela menina passa, cheia de graça, encantando quem passa e a vê caminhar em seu próprio tom.
Aquela menina, com pose de bailarina, ri de sua sina, tocando contente seu violão.
Aquela menina, de doce não tem nada. Traz consigo apenas páginas rasgadas, com marcas de saudade e lágrimas de desilusão.
Aquela menina, de olhar gentil e riso leve, não sabe o que fazer com o amor que restou em seu coração."
"Sussurra o que te faz feliz
Grita o que te mal diz.
Que o coração seja sua força motriz,
E que em sua arte, sejas sempre aprendiz." —
"Essa vida, meu amor, é matreira. O que queres, ela esconde. O que enoja, presenteia. Essa vida, meu amor, é sereia. Atrai para o fundo do oceano, te faz perder-se de mim. Essa vida, meu amor, não é de nada. Mal sabes ela que sou capaz de inverter a ordem do mundo só para trazê-lo de volta para mim." — 
 
  Tu eras o típico homem que sentia demais e dizia de menos, enquanto eu era a típica menina que me aquietava tentando sufocar todo meu sentir e passava batom vermelho para me fingir de mulher quando passavas. Entrastes em minha vida à passos lentos, de fininho, quase sem deixar rastro no assoalho, e em pouco tempo já via marcas de mãos na parede, meias jogadas no cesto e sua camisa favorita esquecida no abajur ao lado do sofá. Eu, menina que se maquiava de mulher sempre que estavas a caminho, desistira de tentar enfeitar-me para disfarçar as lágrimas vendo um animal ferido ou adoração por algodão doce. E você deixou de se esconder em sua cara de brabo que dizia não-me-importo-com-isso, e passou a usar aquela cara de você-faz-isso-só-pra-implicar que tanto me faz rir e te abraçar dizendo que se não fosses exatamente como sou, não virias. A chegada que deveria ser de mais um me visita e depois vai embora porque não tem mais chá gelado, ou o café acabou, ou qualquer desculpa que inventam para fugir da minha casa e nunca mais aparecer - tornou-se a chegada de quem mudaria a minha vida. 
Algumas tardes me pego pensando nos motivos para aceitar sua entrada sem mais nem menos em minha casa. Em dias tristes, penso que foi desespero. Já nos dias alegres, penso que meu sexto sentido - como sempre - indicou que era alguém especial. Mas nos dias em que estás presentes, penso que fora o destino, e nada mais poderia fazer além de permitir entrar na casa que era tua desde muito antes de me conhecer. Eu sinto aqueles braços capazes de aquietar minha alma, vejo aqueles olhos que me pedem carinho tão inocentemente, e sinto aquele cheiro capaz de me acelerar o peito, e penso que algo de muito bom fiz nessa vida para encontrar-te em meu caminho. De todos os laços rompidos, cartas queimadas, noites de sexta perdida na ânsia de encontrar alguém minimamente perto de sua perfeita imperfeição, você chegou. Chegou e te quis. Te quis e me quiseste de volta.
Não disseste palavra alguma que me prometesse eternidade, parentesco ou viagens até a lua, mas me fizeste sentir que tudo o que sentia era recíproco, o que por si só, já me levava aos ares. Não fizemos planos à meia luz, mas sei que estou em todos os teus, como estás nos meus. Eu sei que toda a minha lágrima será limpada pelos seus dedos trêmulos de preocupação, assim como sabes que toda sua angústia será sufocada em meu abraço com todo o carinho do mundo. Deixamos para o destino decidir o que fazer conosco. Enquanto ele pensa, nós nos amamos e nos queremos. Você me ensinou da forma mais sorridente e cheia de suspiros que amar é sorrir. E quando me disseste no meio da noite “sussurra o que te faz sorrir”, falei teu nome em voz baixa e sonolenta. Senti seu sorriso iluminar o quarto, e soube que era a resposta certa.(Gabriela Santarosa) 
Tu eras o típico homem que sentia demais e dizia de menos, enquanto eu era a típica menina que me aquietava tentando sufocar todo meu sentir e passava batom vermelho para me fingir de mulher quando passavas. Entrastes em minha vida à passos lentos, de fininho, quase sem deixar rastro no assoalho, e em pouco tempo já via marcas de mãos na parede, meias jogadas no cesto e sua camisa favorita esquecida no abajur ao lado do sofá. Eu, menina que se maquiava de mulher sempre que estavas a caminho, desistira de tentar enfeitar-me para disfarçar as lágrimas vendo um animal ferido ou adoração por algodão doce. E você deixou de se esconder em sua cara de brabo que dizia não-me-importo-com-isso, e passou a usar aquela cara de você-faz-isso-só-pra-implicar que tanto me faz rir e te abraçar dizendo que se não fosses exatamente como sou, não virias. A chegada que deveria ser de mais um me visita e depois vai embora porque não tem mais chá gelado, ou o café acabou, ou qualquer desculpa que inventam para fugir da minha casa e nunca mais aparecer - tornou-se a chegada de quem mudaria a minha vida.
Algumas tardes me pego pensando nos motivos para aceitar sua entrada sem mais nem menos em minha casa. Em dias tristes, penso que foi desespero. Já nos dias alegres, penso que meu sexto sentido - como sempre - indicou que era alguém especial. Mas nos dias em que estás presentes, penso que fora o destino, e nada mais poderia fazer além de permitir entrar na casa que era tua desde muito antes de me conhecer. Eu sinto aqueles braços capazes de aquietar minha alma, vejo aqueles olhos que me pedem carinho tão inocentemente, e sinto aquele cheiro capaz de me acelerar o peito, e penso que algo de muito bom fiz nessa vida para encontrar-te em meu caminho. De todos os laços rompidos, cartas queimadas, noites de sexta perdida na ânsia de encontrar alguém minimamente perto de sua perfeita imperfeição, você chegou. Chegou e te quis. Te quis e me quiseste de volta.
Não disseste palavra alguma que me prometesse eternidade, parentesco ou viagens até a lua, mas me fizeste sentir que tudo o que sentia era recíproco, o que por si só, já me levava aos ares. Não fizemos planos à meia luz, mas sei que estou em todos os teus, como estás nos meus. Eu sei que toda a minha lágrima será limpada pelos seus dedos trêmulos de preocupação, assim como sabes que toda sua angústia será sufocada em meu abraço com todo o carinho do mundo. Deixamos para o destino decidir o que fazer conosco. Enquanto ele pensa, nós nos amamos e nos queremos. Você me ensinou da forma mais sorridente e cheia de suspiros que amar é sorrir. E quando me disseste no meio da noite “sussurra o que te faz sorrir”, falei teu nome em voz baixa e sonolenta. Senti seu sorriso iluminar o quarto, e soube que era a resposta certa.
  reconduzir:

Sempre contei com um amigo inusitado, chamado Solidão. Foi assim até em meus primeiros relacionamentos, sempre entrei em namoros difíceis, onde quase nunca, muitas vezes nunca mesmo via a pessoa amada. Cresci dentro de meu quarto, com meus aparelhos eletrônicos e muitos amigos distantes aproximando-se de mim de uma forma inexplicável. Vi também meus amigos se distanciarem, e nunca os culpei por isso. No começo, pelos primeiros amigos distantes, eu me sentia a pior pessoa do mundo. Não sabia o porque de terem me deixado, e as vezes sabia ao menos quando haviam feito isso. Mas aprendi que devia seguir a vida à qualquer preço, sempre levantei a cabeça em meio a dificuldades e a tristezas. Em vários episódios de minha vida, contei com alguns amigos novos. A alegria era um deles, tinha também a compreensão, a sinceridade e a fidelidade, estes estiveram presente em minha vida, mesmo que só pelos aparelhos eletrônicos que usava para nos comunicar. E comecei a escrever para eles. Tornei-me um poeta, escrevi dia-e-noite. E isso me satisfazia, até conhecer algo novo, chamam ele de amor, mas ele diz não ter um nome ao certo. “Alguns me chamam de Clarisse, outros de Miguel, por fim sou do mesmo par. Já me chamaram de Bailarina e me intitularam Helena, mas este nunca viu minha face. Já fui xingado de tudo quanto é nome, e já fui visto como animal de estimação, mas eu gosto de ser o sentimento mais belo das pessoas, gosto dos apelidos carinhosos, de mô, de anjo, de meu bem. Alguns dizem meu nome sem saber quem eu sou, outros me afogam em seus próprios travesseiros, mas quando eu bato na porta logo me repreendem. Sou o amor, um amor para poucos.” disse, em sua ultima carta enviada a mim. Não sei de certo porque parou de me escrever, mas ele devia estar cansado de ter me mandado várias outras cartas, onde prometia me amar pra sempre.
O amor foi meu amigo logo que entrei na adolescência, e algumas vezes escrevi pra ele na ultima folha de meu caderno - que saudades das ultimas folhas -, ali estava o nome de várias antigas paixões, dentro de um coração. Meu amor destinatário e eu, o remetente da carta que sempre enviei ao meu amigo, o amor. Mas ele nunca encaminhava a carta, talvez nem mesmo ele fosse um amigo fiel. No final de cada paixão descobria que não era aquele amor que me mandava as cartas. Sempre me enganei, sempre pensei que tal pessoa era o remetente, onde na verdade nem haviam traços poéticos. Muitas vezes abri a janela de meu quarto no meio da noite e olhei pras estrelas, na esperança de que alguma fosse o carteiro que me trouxesse a correspondência, com algum nome doce de remetente, e dessa vez, meu humilde nome destinatário. Nada.
Virei noites sem sono esperando que o meu amor batesse em minha porta, e não mais mandasse cartas em meus sonhos. Estive cansado de seus envelopes que transbordavam esperanças e expectativas. O amor foi sarcástico comigo, até que um dia, ele resolveu aparecer. Foi num ponto de ônibus, uma jovem moça de franja cumprida indecisa entre se esconder por trás de suas orelhas ou na frente de seus olhos, usava fones de ouvido que estralavam de longe a música, que mais tarde eu descobriria ser sua preferida. Fitamos um ao outro, e ali o amor estava, de uma forma simples e imensa. Nos conhecemos, nos amamos, namoramos, noivamos e casamos, onde viriam, eu sei, os dias mais felizes de minha vida.
Em nossa lua de mel, numa noite muito quente de verão, ela esteve deitada em meus braços. Quando pensei que já estava dormindo, meu amor sussurrou baixinho em meu ouvido ”Sonho, estás acordado?”
“Sim. Pensei que já dormia, meu amor”, respondi.
“Preciso tirar o véu de um segredo meu”, disse com os olhos entreabertos. “Antes dos meus últimos livros publicados em nome de nosso amor, escrevia cartas para alguém que eu não sabia se existia. Eu o chamava de amor, e ali estavam muitas coisas sobre mim que ninguém sabia. Eram segredos que hoje só você, meu amor, sabe. Ali estavam meus desejos, meus anseios, meus sonhos, meus planos pro futuro e pro casamento, planos que hoje são do nosso casamento. Eu sempre pedi para as estrelas que te enviassem meus carinhos e afagos, na esperança de que um dia você aparecesse e soubesse que tudo aquilo era meu.
“Eu sempre soube que eram de meu amor”, a aconcheguei em nosso cochão, e peguei um baú que sempre mantive trancado embaixo de nossa cama. “Mas não sabia por qual nome eu clamaria nas noites frias. Foi uma sorte imensa ter conhecido quem me mandava aquelas cartas, que sempre chegavam pra mim quando eu sonhava com as estrelas.
“Achei estranho você nunca ter respondido, quando eu te conheci naquele ponto de ônibus, não mais enviei as cartas. Estive apaixonada demais, e isso me confundiu. Eu soube seu nome, não podia mais escrever para o “amor”. Achei que guardá-las em algum lugar seria mais viável.”, disse me encarando, sorrindo da maneira que mais me encanto.
“Eu sempre escrevi, mas de amor pra amor não dá. Isso confundiria qualquer um, e eu tinha medo de não ser recíproco, sempre tive medo de minhas cartas voltassem. Iria culpar os carteiros por achar que amor destinatário seria o mesmo que o amor remetente e me devolvessem as cartas, como sempre aconteceu antes de te conhecer. Mas, me diz onde estão suas ultimas cartas, já que você tem todas as minhas agora”, respondi novamente.
“Estão com os carteiros”, fechou os olhos e deitou-se em meus braços novamente.
“Que carteiros?” sorri, já sabendo que meu amor tinha um surpresa pra mim.
“Com as estrelas”, só não esperava que seria uma surpresa mágica. “Vem, vou te mostrar”, pegou em minha mão, e levantou-se da cama. Me conduziu até nossa janela e olhou para o céu, depois pra mim. Assenti com a cabeça e olhei pro céu. “Procure-as, se não achar eu te mostro”, disse, eu sorri e me concentrei na constelação que nos assistia.
Enquanto eu fitava o céu, senti seus dedos deslizando em meus braços. De uma forma rápida aproximou-se de mim e beijou meu pescoço. Senti seu corpo aceso por debaixo de sua enorme camisa, usada para dormir. “Não pare de olhar”, sussurrou em meu ouvido, e agachou-se em minha frente. Percebi um leve sorriso, enquanto erguia com os dedos a barra de minha camiseta, e então ajudei a tirá-la. Caminho livre para nossa paixão. Ela beijou minha coxa, deu uma mordida e subiu em movimentos leves e quentes, sendo fortes com o calor que fazia em nosso quarto. Roçou seus lábios em meu abdômen e deslizou sua língua em meu peito. Do jeito que eu mais gosto, puxou os cabelos de minha nuca, mordendo o meu queixo. “Pode tirar, estão ai”, disse, enquanto eu tirava sua camisa, e ela segurava minhas mãos, conduzindo-me ao seu corpo nú. 
“Posso olhar agora?”, perguntei, enquanto ela se afastava segurando a minha mão. 
“Pode sim, mas suas cartas não estão aqui”, aproximou-se, segurando com força o meu rosto, feição de quem queria me morder a todo custo, e quando me entreguei ao seu amor, provando o do gosto doce de seu pescoço, exclamou, “Vamos buscar suas cartas nas estrelas, meu amor.”
Naquele momento, senti que podia voar. Não por ter asas, mas pela leveza que seu corpo junto ao meu me proporcionava. Me tirava do chão, bambeava as pernas, me conduzia à um lugar mais alto do que nossa janela do apartamento era capaz de ver. Ela me levou às estrelas, me mostrou um amor incansável, tudo o que guardou pra mim, que nunca mostrou à nenhum homem de uma forma sublime e incansável, me dando o que jamais senti em minha vida, me levando ao apogeu de meu prazer.
Para sempre, cartas - Luiz H

Sempre contei com um amigo inusitado, chamado Solidão. Foi assim até em meus primeiros relacionamentos, sempre entrei em namoros difíceis, onde quase nunca, muitas vezes nunca mesmo via a pessoa amada. Cresci dentro de meu quarto, com meus aparelhos eletrônicos e muitos amigos distantes aproximando-se de mim de uma forma inexplicável. Vi também meus amigos se distanciarem, e nunca os culpei por isso. No começo, pelos primeiros amigos distantes, eu me sentia a pior pessoa do mundo. Não sabia o porque de terem me deixado, e as vezes sabia ao menos quando haviam feito isso. Mas aprendi que devia seguir a vida à qualquer preço, sempre levantei a cabeça em meio a dificuldades e a tristezas. Em vários episódios de minha vida, contei com alguns amigos novos. A alegria era um deles, tinha também a compreensão, a sinceridade e a fidelidade, estes estiveram presente em minha vida, mesmo que só pelos aparelhos eletrônicos que usava para nos comunicar. E comecei a escrever para eles. Tornei-me um poeta, escrevi dia-e-noite. E isso me satisfazia, até conhecer algo novo, chamam ele de amor, mas ele diz não ter um nome ao certo. “Alguns me chamam de Clarisse, outros de Miguel, por fim sou do mesmo par. Já me chamaram de Bailarina e me intitularam Helena, mas este nunca viu minha face. Já fui xingado de tudo quanto é nome, e já fui visto como animal de estimação, mas eu gosto de ser o sentimento mais belo das pessoas, gosto dos apelidos carinhosos, de mô, de anjo, de meu bem. Alguns dizem meu nome sem saber quem eu sou, outros me afogam em seus próprios travesseiros, mas quando eu bato na porta logo me repreendem. Sou o amor, um amor para poucos.” disse, em sua ultima carta enviada a mim. Não sei de certo porque parou de me escrever, mas ele devia estar cansado de ter me mandado várias outras cartas, onde prometia me amar pra sempre.
O amor foi meu amigo logo que entrei na adolescência, e algumas vezes escrevi pra ele na ultima folha de meu caderno - que saudades das ultimas folhas -, ali estava o nome de várias antigas paixões, dentro de um coração. Meu amor destinatário e eu, o remetente da carta que sempre enviei ao meu amigo, o amor. Mas ele nunca encaminhava a carta, talvez nem mesmo ele fosse um amigo fiel. No final de cada paixão descobria que não era aquele amor que me mandava as cartas. Sempre me enganei, sempre pensei que tal pessoa era o remetente, onde na verdade nem haviam traços poéticos. Muitas vezes abri a janela de meu quarto no meio da noite e olhei pras estrelas, na esperança de que alguma fosse o carteiro que me trouxesse a correspondência, com algum nome doce de remetente, e dessa vez, meu humilde nome destinatário. Nada.
Virei noites sem sono esperando que o meu amor batesse em minha porta, e não mais mandasse cartas em meus sonhos. Estive cansado de seus envelopes que transbordavam esperanças e expectativas. O amor foi sarcástico comigo, até que um dia, ele resolveu aparecer. Foi num ponto de ônibus, uma jovem moça de franja cumprida indecisa entre se esconder por trás de suas orelhas ou na frente de seus olhos, usava fones de ouvido que estralavam de longe a música, que mais tarde eu descobriria ser sua preferida. Fitamos um ao outro, e ali o amor estava, de uma forma simples e imensa. Nos conhecemos, nos amamos, namoramos, noivamos e casamos, onde viriam, eu sei, os dias mais felizes de minha vida.
Em nossa lua de mel, numa noite muito quente de verão, ela esteve deitada em meus braços. Quando pensei que já estava dormindo, meu amor sussurrou baixinho em meu ouvido ”Sonho, estás acordado?”
“Sim. Pensei que já dormia, meu amor”, respondi.
“Preciso tirar o véu de um segredo meu”, disse com os olhos entreabertos. “Antes dos meus últimos livros publicados em nome de nosso amor, escrevia cartas para alguém que eu não sabia se existia. Eu o chamava de amor, e ali estavam muitas coisas sobre mim que ninguém sabia. Eram segredos que hoje só você, meu amor, sabe. Ali estavam meus desejos, meus anseios, meus sonhos, meus planos pro futuro e pro casamento, planos que hoje são do nosso casamento. Eu sempre pedi para as estrelas que te enviassem meus carinhos e afagos, na esperança de que um dia você aparecesse e soubesse que tudo aquilo era meu.
“Eu sempre soube que eram de meu amor”, a aconcheguei em nosso cochão, e peguei um baú que sempre mantive trancado embaixo de nossa cama. “Mas não sabia por qual nome eu clamaria nas noites frias. Foi uma sorte imensa ter conhecido quem me mandava aquelas cartas, que sempre chegavam pra mim quando eu sonhava com as estrelas.
“Achei estranho você nunca ter respondido, quando eu te conheci naquele ponto de ônibus, não mais enviei as cartas. Estive apaixonada demais, e isso me confundiu. Eu soube seu nome, não podia mais escrever para o “amor”. Achei que guardá-las em algum lugar seria mais viável.”, disse me encarando, sorrindo da maneira que mais me encanto.
“Eu sempre escrevi, mas de amor pra amor não dá. Isso confundiria qualquer um, e eu tinha medo de não ser recíproco, sempre tive medo de minhas cartas voltassem. Iria culpar os carteiros por achar que amor destinatário seria o mesmo que o amor remetente e me devolvessem as cartas, como sempre aconteceu antes de te conhecer. Mas, me diz onde estão suas ultimas cartas, já que você tem todas as minhas agora”, respondi novamente.
“Estão com os carteiros”, fechou os olhos e deitou-se em meus braços novamente.
“Que carteiros?” sorri, já sabendo que meu amor tinha um surpresa pra mim.
“Com as estrelas”, só não esperava que seria uma surpresa mágica. “Vem, vou te mostrar”, pegou em minha mão, e levantou-se da cama. Me conduziu até nossa janela e olhou para o céu, depois pra mim. Assenti com a cabeça e olhei pro céu. “Procure-as, se não achar eu te mostro”, disse, eu sorri e me concentrei na constelação que nos assistia.
Enquanto eu fitava o céu, senti seus dedos deslizando em meus braços. De uma forma rápida aproximou-se de mim e beijou meu pescoço. Senti seu corpo aceso por debaixo de sua enorme camisa, usada para dormir. “Não pare de olhar”, sussurrou em meu ouvido, e agachou-se em minha frente. Percebi um leve sorriso, enquanto erguia com os dedos a barra de minha camiseta, e então ajudei a tirá-la. Caminho livre para nossa paixão. Ela beijou minha coxa, deu uma mordida e subiu em movimentos leves e quentes, sendo fortes com o calor que fazia em nosso quarto. Roçou seus lábios em meu abdômen e deslizou sua língua em meu peito. Do jeito que eu mais gosto, puxou os cabelos de minha nuca, mordendo o meu queixo. “Pode tirar, estão ai”, disse, enquanto eu tirava sua camisa, e ela segurava minhas mãos, conduzindo-me ao seu corpo nú.
“Posso olhar agora?”, perguntei, enquanto ela se afastava segurando a minha mão.
“Pode sim, mas suas cartas não estão aqui”, aproximou-se, segurando com força o meu rosto, feição de quem queria me morder a todo custo, e quando me entreguei ao seu amor, provando o do gosto doce de seu pescoço, exclamou, “Vamos buscar suas cartas nas estrelas, meu amor.”
Naquele momento, senti que podia voar. Não por ter asas, mas pela leveza que seu corpo junto ao meu me proporcionava. Me tirava do chão, bambeava as pernas, me conduzia à um lugar mais alto do que nossa janela do apartamento era capaz de ver. Ela me levou às estrelas, me mostrou um amor incansável, tudo o que guardou pra mim, que nunca mostrou à nenhum homem de uma forma sublime e incansável, me dando o que jamais senti em minha vida, me levando ao apogeu de meu prazer.
Para sempre, cartas - Luiz H
  Certo dia um passarinho pousou na janela da cozinha, e cantarolou sua poesia com a leveza de quem tem o tempo nas asas. Senti-me dentro de poesia, enxergava as notes flutuando pelo ar, dançando ao redor dos móveis até entrar em meus ouvidos. Me deixei levar pelas notas, transformando-me em mera espectadora daquela pequenina e majestosa ave que resolvera surpreender minha manhã. Senti-me honrada e intrigada por ser presenteada com aquele verdadeiro show particular. Passaram-se minutos, e aquele belo passarinho continuava, entre pausas - como um artista esperando a reação da platéia antes de prosseguir com a próxima canção - poetizando para meus ouvidos. Encantou-me a tal ponto, que despertou minha obsessão. Só meus ouvidos ouviriam aquele canto e apenas meus olhos enxergariam a beleza e a leveza do pequenino. Me aproximei, cada vez mais lentamente, para não assustá-lo. Estava prestes a alcançá-lo, alçou vôo e desapareceu no azul do céu. Encostei na janela e procurei - em vão - a ave, soltando um resmungo de frustração e reprimindo uma pontada de tristeza. Meu peito se esvaziou, se doeu. Aquela ave, pequenina e preciosa, era como o amor - disse ao vento, com tristeza. - É visita inesperada. Invade, encanta, embriaga, vicia. Para quando já não soubermos viver sem ela, desaparece nas nuvens do céu e nos deixa só. Deixei as janelas abertas. Vez ou outra, ouvia canto e corria pela casa à sua procura, mas jamais era quem desejava. Vários pássaros pousaram em minha janela e cantaram para mim. Alguns grandes, outros nem tanto. Canto agudo e, por vezes, um tanto desafinado. Mas nenhum fora como aquela ave que, sem pedir licença, proclamou versos capazes de causar inveja ao mais sensível dos poetas. Até hoje permaneço com as janelas abertas. Esperando que, entre tantas aves e cantos, meu pequenino passarinho volte para cantar.Gabriela Santarosa  Certo dia um passarinho pousou na janela da cozinha, e cantarolou sua poesia com a leveza de quem tem o tempo nas asas. Senti-me dentro de poesia, enxergava as notes flutuando pelo ar, dançando ao redor dos móveis até entrar em meus ouvidos. Me deixei levar pelas notas, transformando-me em mera espectadora daquela pequenina e majestosa ave que resolvera surpreender minha manhã. Senti-me honrada e intrigada por ser presenteada com aquele verdadeiro show particular. Passaram-se minutos, e aquele belo passarinho continuava, entre pausas - como um artista esperando a reação da platéia antes de prosseguir com a próxima canção - poetizando para meus ouvidos. Encantou-me a tal ponto, que despertou minha obsessão. Só meus ouvidos ouviriam aquele canto e apenas meus olhos enxergariam a beleza e a leveza do pequenino. Me aproximei, cada vez mais lentamente, para não assustá-lo. Estava prestes a alcançá-lo, alçou vôo e desapareceu no azul do céu. Encostei na janela e procurei - em vão - a ave, soltando um resmungo de frustração e reprimindo uma pontada de tristeza. Meu peito se esvaziou, se doeu. Aquela ave, pequenina e preciosa, era como o amor - disse ao vento, com tristeza. - É visita inesperada. Invade, encanta, embriaga, vicia. Para quando já não soubermos viver sem ela, desaparece nas nuvens do céu e nos deixa só. Deixei as janelas abertas. Vez ou outra, ouvia canto e corria pela casa à sua procura, mas jamais era quem desejava. Vários pássaros pousaram em minha janela e cantaram para mim. Alguns grandes, outros nem tanto. Canto agudo e, por vezes, um tanto desafinado. Mas nenhum fora como aquela ave que, sem pedir licença, proclamou versos capazes de causar inveja ao mais sensível dos poetas. Até hoje permaneço com as janelas abertas. Esperando que, entre tantas aves e cantos, meu pequenino passarinho volte para cantar.
"Desatei nosso nó. Esvaziei nossa gaveta. Abri as janelas para o vento levar consigo teu cheiro e tua presença-ausente. Não mais estaria em meu peito, em minha casa, em minhas palavras. Sentei diante da escrivaninha, disposta a escrever tudo aquilo que faz parte da vida e não faz parte de ti. Escrevi inconscientemente: Saudade não quer partir. Com ou sem você, tudo me dói. Como-sinto-a-falta-dele." — 
 
"Ele era… Não sei. Tinha um brilho que vinha lá do fundo da alma, sabe? Um ímã que me atraía e intrigava, tudo ao mesmo tempo. Eu queria tocá-lo, apertá-lo, degustá-lo por inteiro, e sabia que jamais seria o suficiente. Era uma daquelas pessoas que iluminam o mundo só por existir. Palavra alguma teve o poder de encaixá-lo completamente, sempre sobrava algo mais que não poderia ser esquecido. Então pensei que estava sendo real demais, comum demais. Por certo, ele não era real, tampouco comum. Dentro de si morava algo surreal, mágico. Foi então que comecei a chamá-lo de anjo. Meu anjo." —
"Sinto medo de perder-te nesses becos escuros por descuido. De deixar-te escapar como areia pelo vão dos dedos e não conseguir resgatá-lo. De não mais ser aquela que recebe tuas mensagens de amor para ter um dia menos sofrido. De não ser mais presenteada com seu sorriso tão belo. Já disse o quão belo és teu sorriso? Assombra-me imaginar que alguns dentes brilhantes somados a um lábio rosado seja capaz de causar-me palpitações. Entre tantas paixões, a mais intensa foi pelo teu sorriso. Entre tantos amores, o mais bonito foi aquele que destinei à seu dono. Te olhei e pensei, pensei, pensei, e me vi incapaz de pensar qualquer coisa que fosse. Era diferente, especial. Aquele moço, de pose calma e olhar indecifrável, aos meus olhos era incomum. Me vi tentada a desvendar teus mistérios, saborear cada nova descoberta que fizesse em teu mar. Descobri - te descobri, nos descobrimos. Navegar em tuas águas tornou-se vício. Encontrar-te em meus sonhos, mera rotina. E agora, depois de tantas aventuras, dias e horas e sorrisos, o vejo desaparecer devagar. Guardei aquilo que restou dentro de mim com zelo e carinho. Para, no meio da madrugada em que acordo assustada sem sentir seu carinho, ver um pedaço teu, e sorrir por saber que parte de ti ainda me pertence." —
 

"Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas o tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Ao lado delas pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. De cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza." — 

Codinome meu e teu.
Andava apressada pela rua escura, os pés faziam barulho ao pisar nas poças, as gotas de chuva molhavam os poucos pontos secos que restavam no casaco, o rosto balançava de um lado para o outro como um fugitivo temendo ser descoberto, balançando os fios de cabelo encharcados até grudarem pelo rosto e parte do pescoço. Sentia-me aflita, temendo à qualquer momento ser descoberta. Dentro do bolso trazia pequeno tesouro, teu codinome. Nosso segredo guardado à sete chaves para esconder da inveja nosso amor tão belo. A chuva transformava-se pouco à pouco em temporal. Raios cortavam o céu e via a sombra de pessoas se projetarem nas janelas dos prédios, olhando para cima, rezando para que a luz não acabe e faça daquela noite cenário perfeito de algum filme de terror. Parando por alguns segundos e observei as luzes do céu apontando para vários lugares da cidade. Cansada de guerrear com a chuva, encostei em uma parede qualquer do caminho, fechando os olhos por um segundos e perguntando-me mais uma vez porque raios havia decidido procurar-te em hora tão pouco propícia para declarações. Não deveria ser assim, sussurrei para o vento que me encontrara em algum momento da tempestade e fizeram meu corpo tremer de frio, deveria estar agora em casa, contigo. Fiz meus trabalhos em tempo recorde, corri para dentro do táxi com tanta ansiedade que assustei o pobre motorista, que decidiu nada dizer ao ver meus olhos desvairados enquanto praticamente berrava aos quatro cantos o endereço. Sinto que ele entendia - como, nem eu sabia -, que sabia que aquela não era hora para perguntas, só para ação. Entreguei as notas para o homem quando cheguei sem me preocupar se havia dado de mais ou de menos, e corri pelos degraus, tropeçando duas vezes durante o percurso. Abri a porta com violência, e entrei. Silêncio. O chamei pelo nome, seguido de teu apelido - anjo meu - e, após, vi um pedaço de papel com sua letra escrevendo meu nome. Não precisava ler a carta para saber seu conteúdo. Era um adeus. Não queria ler teu adeus. Em parte, por não estar preparada para lhe deixar ir embora, assim, sem mais nem menos. Também, por saber que, apesar de todos os afagos contidos naquela carta, ainda seria um adeus seco e cruel, capaz de desenhar lágrimas em meu rosto por semanas - que, aliás, já caíam apenas de imaginar-te sentado na escrivaninha pensando em mil e uma maneiras de dizer-me aquilo que tanto nos doeria. No papel havia a marca de uma lágrima. Não sabia se era tua ou minha, portanto imaginei que seria nossa. E ainda éramos nós, unidos por uma lágrima. Ao lado da carta, vi um pedacinho que parecia ser vidro, mas era cristal. Teu codinome, lapidado por mim com todo o amor que meu coração poderia lhe oferecer. Deixaste-o para trás. No fundo, sabia que lhe doeu fazê-lo tanto como me doeu pegá-lo e apertá-lo entre as mãos, sabendo que era apenas parte de você. Em princípio, queria quebrá-lo, apagar-te de meu passado (in)feliz. Mas não importa a força de meus dedos, nada acontecia. Decidi então, colocá-lo no bolso até pensar no que fazer. Disseste para vir logo, e não o fiz. Tentei, era verdade, mas não foi o suficiente. Entristecia-me o peito pensar que, não importa o quanto você se importe, alguns segundos são o suficiente para seu mundo escrever-lhe uma carta e ir embora - mesmo que você queira deixá-lo perto de ti para sempre e ele queira também. Olhei pela janela, nuvens escuras tomavam o céu. Logo choveria. Olhei nosso retrato perto da carta. Sorríamos e nos abraçávamos. Em algum lugar, éramos eternos. Por uma lembrança, por um codinome, por uma foto… Peguei a carta nas mãos e segui com passos decididos porta afora. As águas ganharam da pressa, e ali estava eu, desamparada no meio da chuva. Um forte trovão despertou-me para a realidade em que estava, e voltei meu caminho. Desta vez, correndo sem olhar para trás, parando apenas quando cheguei em seu portão. Apertei teu interfone incontáveis vezes. Nada. Chamei teu nome, porém fora abafado pelo estrondoso barulho dos trovões. De repente, vi um borrão em uma das janelas. Apertei os olhos tentando definir algo familiar - e desejava que não fosse aquela sua vizinha que tanto desejava atirar pela escada -, mas não adiantou. O portão se abriu, e não demorei à entrar. Subi os degraus depressa, diminuindo os passos até parar estática em sua porta. Estava encostada. Entrei devagar, temendo ser pega de surpresa. E realmente fui. Estava parado, analisando-me dos fios de cabelo aos dedos dos pés. Seus lábios seguravam um daqueles sorrisos que tanto amava, porém seus olhos estavam horrorizados. Gesticulou com as mãos, e senti perguntar silenciosamente o que significava aquilo. Eu, encharcada, parada em sua porta com um olhar de súplica. Coloquei uma das mãos no bolso e senti cristal frio e pequenino. Graças aos céus, ainda estava lá, pensei aliviada. Tirei a mão do bolso mostrando o que segurava, e sussurrei: Acho que você esqueceu alguma coisa. Dei um de meus sorrisos calmos, mas soou um tanto inseguro - ao menos, foi o que a expressão dele demonstrou. Aos poucos, senti um sorriso se formar em seu rosto. De alguma forma, algo em meu coração dizia que tudo voltava em seu devido lugar.


- Demoraste, meu amor. - disse-me rompendo nossa barreira e prendendo-me em um de seus abraços que faziam minhas pernas fraquejarem, e sussurrou em meu ouvido: - Não faça mais isso!


- Ora, que exigente. Se soubesse que não aguentaria, não teria partido. - respondi risonha, parando logo em seguida quando seus olhos encontraram os meus - Senti sua falta.


- Falta recíproca.


- Então eu cruzo a cidade no meio de um dilúvio e é apenas isto que tens a me dizer? Falta recíproca?


Ele me sorriu e pegou seu codinome, guardando-o no bolso de sua camisa.


- Bem… O que mais quer que diga?


- O que mais quer dizer?


- Está tremendo de frio. - colocou as mãos em meu rosto pálido.


- Não é o frio que me faz tremer. - sussurrei simplesmente.


Olhou-me nos olhos e disse após um par de segundos: - Eu amo você. 


- Eu sei.


Me deixei ser guiada por seu calor, encostando meu ombros cansados em seu corpo manso. Respirei fundo para sentir seu perfume. Senti a certeza de que jamais partiria. Descobrira que a felicidade existia ali, em teus contornos. Meu codinome, meu amor. 
"Silencie os lábios. Comunique-se com os olhos. Use-os para dizer tudo, sem medo da rejeição, sem esconder a dúvida. Desabafe, mas segure as lágrimas. Traduza o amor pelo toque. Acaricie os braços com a ponta dos dedos. Explique a saudade com um abraço sufocante de tão apertado e completo. Permita que te complete. Deixa transbordar a urgência. Arrepie, suspire, viva! Sinta o silêncio, permita-o escrever a lembrança com letras maiúsculas. A quietude torna tudo mais bonito - é nela que o amor se esconde." —
"Quero toda noite dormir junto sim
Quero toda noite te reencontrar
Quero toda noite o seu beijo sim
Quero toda noite, toda noite o teu corpo pra colar no meu." —
  Ela o amava. Sem complexidades ditas ao silêncio dos olhos ou dilacerações ao luar. Amava-o só pelo prazer de amar. Quando estavas, vivia de sorrisos. Quando não estavas, simplesmente vivia. Ele a amava. Sem temor de ser garoto demais para tanto mistério que irradiava dela. Amava-a para ter paz. Nela via toda a cor de um mundo onde tristeza não era bem-vinda, e ficava por lá, sereno, feliz. Não havia buquê de rosas espalhados pela sua casa, tampouco cartas apaixonadas escondidas na cabeceira da cama. O amor deles era assim, manso. Vezenquando uma batida forte na janela faziam pratos voarem e gritos ecoarem pelas paredes da sala - para logo depois transformar-se em afagos de perdão. O amor deles era assim, intenso. Quem os observava caminhando pela rua com as mãos entrelaçadas, ou sentados com os braços roçando de tão perto na mesa do bar, distribuindo sorrisos para qualquer um que viesse, enxergava que ali havia encaixe talhado à mão. O amor deles era assim, transparente. Todas as noites, debaixo do lençol, ouvia-se sussurros apaixonados vindos até o sono chegar - de tão maravilhado que ficava com a cena, deixava-os aproveitar esse amor bonito que transbordava dos lençóis e inundava a casa. O amor deles era assim, infinito.Gabriela Santarosa  Ela o amava. Sem complexidades ditas ao silêncio dos olhos ou dilacerações ao luar. Amava-o só pelo prazer de amar. Quando estavas, vivia de sorrisos. Quando não estavas, simplesmente vivia. Ele a amava. Sem temor de ser garoto demais para tanto mistério que irradiava dela. Amava-a para ter paz. Nela via toda a cor de um mundo onde tristeza não era bem-vinda, e ficava por lá, sereno, feliz. Não havia buquê de rosas espalhados pela sua casa, tampouco cartas apaixonadas escondidas na cabeceira da cama. O amor deles era assim, manso. Vezenquando uma batida forte na janela faziam pratos voarem e gritos ecoarem pelas paredes da sala - para logo depois transformar-se em afagos de perdão. O amor deles era assim, intenso. Quem os observava caminhando pela rua com as mãos entrelaçadas, ou sentados com os braços roçando de tão perto na mesa do bar, distribuindo sorrisos para qualquer um que viesse, enxergava que ali havia encaixe talhado à mão. O amor deles era assim, transparente. Todas as noites, debaixo do lençol, ouvia-se sussurros apaixonados vindos até o sono chegar - de tão maravilhado que ficava com a cena, deixava-os aproveitar esse amor bonito que transbordava dos lençóis e inundava a casa. O amor deles era assim, infinito.
"Às três da madrugada, puxo um caderno na cama e rabisco algumas frases às cegas. De que me serve o abajur da avó se minha paixão transborda pelos rascunhos tortos de quem escreve sem luz? Esborro em palavras e assim sou: repleta de mãos aptas ao breu do quarto. Não há paciência, não há aguardar. O que sempre arrebata o sono é um gigantesco meu-Deus-quanta-confusão-para-traduzir-em-palavras." —
  “Sinto falta de quanto sentia minha falta”, pensei em dizer naquela ligação impessoal feita apenas para ouvir tua voz quando a saudade estava prestes a perfurar minhas entranhas. A dor tornou-se mais aguda enquanto aguardava a chamada ser completada, me vi sentada no meio da sala, segurando o telefone com desespero. Ao ouvir tua voz do outro lado do fio, perguntei-me aonde estarias, com quem estarias e porque raios não estava junto de ti. Sempre me causava essas reações quando desaparecia em mais uma de suas fases eu-não-quero-precisar-de-ninguém e finge nunca ter existido uma eu - ainda que pequenina - ocupando um espaço minúsculo em teus dias. Parecia um tanto cansado, ao fundo havia barulho que transformava sua voz em um sussurro cansado. Senti uma pontada no peito causada pelo descaso de sua entonação. “O que é que você quer?”, disse rispidamente, mas o som alto da festa - só consigo imaginar-te curtindo a vida enquanto eu, boba, te espero todas as noites -, e pensei em responder: “Eu quero você. Sua voz mansa no meu pescoço tenso. Seu beijo urgente na minha nuca arrepiada. Sua mão quente em meus dedos frios. Seu abraço no meu corpo quase sem vida, inerte desde que você, em mais uma de suas fases de diversão infantil, me deixou aqui, sozinha e tua”. Ao invés de pronunciar cada palavra que desejava, nada dissera, e repetiste a pergunta: O que é que você quer? - Dessa vez, a impaciência tornou-se maior que o barulho, e meus ouvidos traduziram cada sensação contida naquela palavra. Indiferença, ansiedade. Sentia do outro lado da linha seus dedos tremendo na ânsia de acabar a ligação, e algo dentro de mim se rompeu. Era a esperança. Depois de tuas palavras, ela simplesmente se foi, desejando-me sorte e pronunciando um pedido de desculpas antes da porta bater fortemente e quase derrubar um quadro preso na parede. Mesmo partindo, em todas as ligações desesperadas que fazia durante a madrugada, sempre senti doçura em tua voz. Por vezes, escutava sua respiração dizendo volto-logo-para-você, e meu coração acalmava, sabendo que retornarias e meus dias seriam novamente escritos com tua letra de mão. Desta vez, tudo era diferente. Não retornarias. Algo dentro de mim sabia que não querias voltar. Fase fora eu, tola, romântica, pensando que sempre voltarias porque - apesar desse teu jeito de que prefere ficar só - me amava, me sentia, me queria. Respirei fundo, e disse: “Te cuida bem, por favor”, completando comigo mesma, “pois não mais o farei por ti”. Desliguei o telefone. Te desliguei de mim.Gabriela Santarosa  “Sinto falta de quanto sentia minha falta”, pensei em dizer naquela ligação impessoal feita apenas para ouvir tua voz quando a saudade estava prestes a perfurar minhas entranhas. A dor tornou-se mais aguda enquanto aguardava a chamada ser completada, me vi sentada no meio da sala, segurando o telefone com desespero. Ao ouvir tua voz do outro lado do fio, perguntei-me aonde estarias, com quem estarias e porque raios não estava junto de ti. Sempre me causava essas reações quando desaparecia em mais uma de suas fases eu-não-quero-precisar-de-ninguém e finge nunca ter existido uma eu - ainda que pequenina - ocupando um espaço minúsculo em teus dias. Parecia um tanto cansado, ao fundo havia barulho que transformava sua voz em um sussurro cansado. Senti uma pontada no peito causada pelo descaso de sua entonação. “O que é que você quer?”, disse rispidamente, mas o som alto da festa - só consigo imaginar-te curtindo a vida enquanto eu, boba, te espero todas as noites -, e pensei em responder: “Eu quero você. Sua voz mansa no meu pescoço tenso. Seu beijo urgente na minha nuca arrepiada. Sua mão quente em meus dedos frios. Seu abraço no meu corpo quase sem vida, inerte desde que você, em mais uma de suas fases de diversão infantil, me deixou aqui, sozinha e tua”. Ao invés de pronunciar cada palavra que desejava, nada dissera, e repetiste a pergunta: O que é que você quer? - Dessa vez, a impaciência tornou-se maior que o barulho, e meus ouvidos traduziram cada sensação contida naquela palavra. Indiferença, ansiedade. Sentia do outro lado da linha seus dedos tremendo na ânsia de acabar a ligação, e algo dentro de mim se rompeu. Era a esperança. Depois de tuas palavras, ela simplesmente se foi, desejando-me sorte e pronunciando um pedido de desculpas antes da porta bater fortemente e quase derrubar um quadro preso na parede. Mesmo partindo, em todas as ligações desesperadas que fazia durante a madrugada, sempre senti doçura em tua voz. Por vezes, escutava sua respiração dizendo volto-logo-para-você, e meu coração acalmava, sabendo que retornarias e meus dias seriam novamente escritos com tua letra de mão. Desta vez, tudo era diferente. Não retornarias. Algo dentro de mim sabia que não querias voltar. Fase fora eu, tola, romântica, pensando que sempre voltarias porque - apesar desse teu jeito de que prefere ficar só - me amava, me sentia, me queria. Respirei fundo, e disse: “Te cuida bem, por favor”, completando comigo mesma, “pois não mais o farei por ti”. Desliguei o telefone. Te desliguei de mim.
 
"De tão quieto, meu amor ficou mudo. De tão reprimido, meu desejo virou angústia. De tanto silêncio, minha solidão é rotina. De tanta ausência, me transformei em saudade." — 
  O vento dançava com as folhas das árvores que roçavam suavemente contra a janela. A noite brilhava apesar das nuvens cobrirem todas as estrelas. A Lua iluminava pontos do quarto escuro. Em um deles, estava eu, sentada em uma cadeira de balanço antiga, envolvida numa coberta, alternando entre olhar a noite e observar cada gesto seu adormecido na cama. Nossa cama, ousei pensar mordendo os lábios. Me agradou imensamente como soava aquela palavra: Nossa. Tímida, comum, que acelera meu peito enquanto imaginava tudo que poderia transformar-se em nosso. Nosso canto, nosso lar, nossa história. Palavras pequeninas, unidas, e capazes de triplicar o tamanho do coração.Quando dei por mim, estava deitada ao teu lado, te afagando os fios de cabelo e recordando todas as vezes que quase fugi de você e desisti no último instante. A vida sempre fora assim comigo. Era sentir e fugir. Era encontrar e me esconder. Com todos fui assim, e apesar de doer no início, passava e seguia em frente. Mas com você, não. Pensar em dizer adeus me doía mais do que lembrar todas as minhas partidas de uma só vez. Em algum canto da alma, eu sabia, as despedidas vieram uma à uma esperando apenas tua chegada para jamais voltarem a existir. Você apagou o meu passado e iniciou comigo um novo livro sem rascunho algum. Me fez viver no improviso. Mostrou para minha natureza desconfiada o quão é bom aprender a confiar. Ensinou-me a amar sem pressa - nesse teu jeito bem devagar, saboreando cada sensação. Em meio à devaneios, senti seu olhar em mim. Eu te sorri e você sorriu de volta. Era bom, entre tantos sentimentos solitários, saber que algo era devolvido à mim. Saber que meus arrepios, sorrisos e toda essa vontade de você, eram recíprocos. Eu encostei a cabeça no teu peito e fui embalada pelo ritmo da sua respiração, pensando em como era bom, entre tantos caminhos opostos e acenos de adeus, encontrar você.Gabriela Santarosa  O vento dançava com as folhas das árvores que roçavam suavemente contra a janela. A noite brilhava apesar das nuvens cobrirem todas as estrelas. A Lua iluminava pontos do quarto escuro. Em um deles, estava eu, sentada em uma cadeira de balanço antiga, envolvida numa coberta, alternando entre olhar a noite e observar cada gesto seu adormecido na cama. Nossa cama, ousei pensar mordendo os lábios. Me agradou imensamente como soava aquela palavra: Nossa. Tímida, comum, que acelera meu peito enquanto imaginava tudo que poderia transformar-se em nosso. Nosso canto, nosso lar, nossa história. Palavras pequeninas, unidas, e capazes de triplicar o tamanho do coração.


Quando dei por mim, estava deitada ao teu lado, te afagando os fios de cabelo e recordando todas as vezes que quase fugi de você e desisti no último instante. A vida sempre fora assim comigo. Era sentir e fugir. Era encontrar e me esconder. Com todos fui assim, e apesar de doer no início, passava e seguia em frente. Mas com você, não. Pensar em dizer adeus me doía mais do que lembrar todas as minhas partidas de uma só vez. Em algum canto da alma, eu sabia, as despedidas vieram uma à uma esperando apenas tua chegada para jamais voltarem a existir. Você apagou o meu passado e iniciou comigo um novo livro sem rascunho algum. Me fez viver no improviso. Mostrou para minha natureza desconfiada o quão é bom aprender a confiar. Ensinou-me a amar sem pressa - nesse teu jeito bem devagar, saboreando cada sensação. Em meio à devaneios, senti seu olhar em mim. Eu te sorri e você sorriu de volta. Era bom, entre tantos sentimentos solitários, saber que algo era devolvido à mim. Saber que meus arrepios, sorrisos e toda essa vontade de você, eram recíprocos. Eu encostei a cabeça no teu peito e fui embalada pelo ritmo da sua respiração, pensando em como era bom, entre tantos caminhos opostos e acenos de adeus, encontrar você.
 

"Mas o que vai te fazer falta mesmo, o que vai doer bem fundo, é a saudade dos momentos simples: da sua mãe te chamando pra acordar, do seu pai te levando pela mão, dos desenhos animados com seu irmão, do caminho pra casa com os amigos e a diversão natural, do cheiro que você sentia naquele abraço, da hora certinha em que ele sempre aparecia pra te ver, e como ele te olhava com aquela cara de coitado pra te derreter…" —
"Não se desespere, menina, e não ouses perder a fé. Há muitas curvas antes do final feliz." — 
O relógio badala meia-noite, colocando fim no antes, ao mesmo tempo que começava o depois - marcando mais um dia longe de suas mãos. Você foi embora, e nada mudou. Continuei levantando enquanto queria voltar à dormir, e dormindo desejando sumir, desaparecer entre os lençóis, transportar-me para qualquer lugar aonde nada me lembraria você. Esse não era o final de uma história de amor. Sabia no fundo de meu peito que retornaria, e me tomaria nos braços sussurrando que pensaste em mim, porque assim como eu, estás preso, enredado em algo que não sabe definir, onde só existe a certeza de que não pode haver um ponto final. Talvez vírgulas, reticências ou parênteses, mas nunca o ponto final. Só gostaria de pular essa falta, essa pausa entre os capítulos que me toma o ar, preenchendo meus pulmões daquela ausência dolorosa que me deixaste de lembrança. Mesmo doendo de saudade, gostava de pensar em você, de imaginar você, de tudo você, você e você - porque até na falta, pensar em nós trazia esperança por tudo que passamos, risos por todas as piadas bobas que inventamos durante as madrugadas silenciosas, sonhos por tudo que ainda viveremos, e sorrisos por tudo que sentimos. Mas tinha medo de que, conforme os dias passassem e sol nascesse, você deixasse de imaginar tudo eu, eu e eu, ou se transformasse tudo em outra, outra e outra. Temia que, durante uma madrugada qualquer, rolando pela cama, você deixasse de enxergar o “nós”, e imaginar apenas um “você”. E não importava declarações, beijos e abraços dados antes da partida, ainda trazia um vazio imenso esperando sua volta. Perguntava-me se preencheria o vazio de amor ou de adeus, tornando a tarefa de passar os dias com otimismo ainda mais árdua. Porque em amor não existe otimismo ou pessimismo na hora da perda. É preciso ouvir todas as palavras, ditas cuidadosamente para, ou manter-se em plena paz, ou despedaçar o coração sem deixar aquele pingo de esperança que causa mais dor do que o fim em si. E todos os dias esses pensamentos vagavam por cada célula do meu corpo. Ora sentia vontade de escrever uma carta e eu mesma por fim neste tormento, ora gritava calada o quanto sua ausência me rasgava os sentidos. Sabia que, fosse qual fosse o destino, estava próximo.Era uma quarta-feira de agosto, os carros passavam na rua apressados, pessoas andavam trombando umas nas outras - algumas correndo, outras caminhando - e eu parada no meio, perdida enquanto procurava por algo que já não sabia se me procurava de volta. Passaram-se segundos, e senti como se fossem semanas. Minutos, que senti que eram meses. E encontrei. Aqueles olhos que faziam os meus brilharem como duas estrelas, brilhando de volta pra mim. Aquele rosto que já havia decorado cada pequeno detalhe, sorrindo pra mim. Não ouvia mais buzinas, passos ou vozes. Não enxergava mais correria, carros ou outros. O medo não existia mais. O mundo não existia mais. Era ele e eu. Éramos nós, e nada mais.Gabriela Santarosa
O relógio badala meia-noite, colocando fim no antes, ao mesmo tempo que começava o depois - marcando mais um dia longe de suas mãos. Você foi embora, e nada mudou. Continuei levantando enquanto queria voltar à dormir, e dormindo desejando sumir, desaparecer entre os lençóis, transportar-me para qualquer lugar aonde nada me lembraria você. Esse não era o final de uma história de amor. Sabia no fundo de meu peito que retornaria, e me tomaria nos braços sussurrando que pensaste em mim, porque assim como eu, estás preso, enredado em algo que não sabe definir, onde só existe a certeza de que não pode haver um ponto final. Talvez vírgulas, reticências ou parênteses, mas nunca o ponto final. Só gostaria de pular essa falta, essa pausa entre os capítulos que me toma o ar, preenchendo meus pulmões daquela ausência dolorosa que me deixaste de lembrança.
Mesmo doendo de saudade, gostava de pensar em você, de imaginar você, de tudo você, você e você - porque até na falta, pensar em nós trazia esperança por tudo que passamos, risos por todas as piadas bobas que inventamos durante as madrugadas silenciosas, sonhos por tudo que ainda viveremos, e sorrisos por tudo que sentimos. Mas tinha medo de que, conforme os dias passassem e sol nascesse, você deixasse de imaginar tudo eu, eu e eu, ou se transformasse tudo em outra, outra e outra. Temia que, durante uma madrugada qualquer, rolando pela cama, você deixasse de enxergar o “nós”, e imaginar apenas um “você”. E não importava declarações, beijos e abraços dados antes da partida, ainda trazia um vazio imenso esperando sua volta. Perguntava-me se preencheria o vazio de amor ou de adeus, tornando a tarefa de passar os dias com otimismo ainda mais árdua. Porque em amor não existe otimismo ou pessimismo na hora da perda. É preciso ouvir todas as palavras, ditas cuidadosamente para, ou manter-se em plena paz, ou despedaçar o coração sem deixar aquele pingo de esperança que causa mais dor do que o fim em si. E todos os dias esses pensamentos vagavam por cada célula do meu corpo. Ora sentia vontade de escrever uma carta e eu mesma por fim neste tormento, ora gritava calada o quanto sua ausência me rasgava os sentidos. Sabia que, fosse qual fosse o destino, estava próximo.
Era uma quarta-feira de agosto, os carros passavam na rua apressados, pessoas andavam trombando umas nas outras - algumas correndo, outras caminhando - e eu parada no meio, perdida enquanto procurava por algo que já não sabia se me procurava de volta. Passaram-se segundos, e senti como se fossem semanas. Minutos, que senti que eram meses. E encontrei. Aqueles olhos que faziam os meus brilharem como duas estrelas, brilhando de volta pra mim. Aquele rosto que já havia decorado cada pequeno detalhe, sorrindo pra mim. Não ouvia mais buzinas, passos ou vozes. Não enxergava mais correria, carros ou outros. O medo não existia mais. O mundo não existia mais. Era ele e eu. Éramos nós, e nada mais.
"Te pedi desesperadamente uma gota de carinho, um sopro de sorriso, um minuto de atenção. Você me deu um meio sorriso e lançou aquele olhar de falsa inocência. Poucos segundos duraram, e me senti a mulher mais feliz do mundo. Menina boba - diria quem visse a cena -, com tão pouco se contenta. Mal sabem eles. Uma gota sua, em mim, transforma-se em temporal." —

Alguém Eterno
Alguém que me ofereça o braço para descer a escada sabendo do ser atrapalhado que teima em bambear minhas pernas quando estiver por perto. Alguém que me mande mensagem no meio da noite dizendo que está com saudade, no exato momento em que eu pensar “seria bom que você estivesse aqui”. Alguém capaz de me fazer esquecer por alguns minutos do mundo que corre do lado de fora das paredes e da minha fobia de acabar sem ninguém. Alguém que traga sensações de um amor colegial ao mesmo tempo em que transmite a paz de um amor tranquilo, bem amado, bem maduro. Alguém que me roube o ar, me faça ofegar e pensar que em seus beijos residem todo o oxigênio do planeta. Preciso de algo nessa vida que me faça querer voar, flutuar no azul do céu e desistir de me esconder todas as noites em minhas cobertas e fazer silêncio para não chamar atenção. Não quero palavras de poeta, simplicidade complexa, abajur no telhado ou estrelas desenhadas com pó de giz. Eu só quero desatar esse nó no meu peito que me impede de respirar. Enxergar além, e encontrar na estrada uma sombra sorrindo com as mãos estendidas e aquele olhar de vem-logo-que-te-espero. As palavras amor e eterno na mesma frase. Um-amor-eterno. 
"Desaprendi a pronunciar teu nome. Só sei te chamar de meu bem, meu anjo, meu amor, meu isso, meu aquilo… Meu." —
  Sinto-me tão sozinha. Vejo pela janela do meu quarto tanta vida despreocupada dançando pela calçada, tanto carinho transbordando de olhos apaixonados, e invejo com toda a cobiça de sentimento alheio que uma alma é capaz de guardar. Há tanto lá fora, e eu aqui, trancafiada nos confins dessas quatro paredes que me fazem sentir numa prisão que me condenei por não gostar de meio-termo. Cansada estou de desapego - palavra essa que não deveria existir em dicionário, tampouco ser dita por língua. Impossível desapegar-se de algo que se apega, à menos que seja ilusão. Ah, mas a ilusão se apega, e devora. Sentimentos devoram, desgastam, esfolam, mas jamais se desapegam. Em meu peito fadigado, desapego não existe - se existe, não se mostra. O tempo não desapega de nada. Não, o tempo traz saudade do apego que se desapegou de mim. Lembro-me de quando desisti de me doer com tanto desapego, e passei a trazer felicidade à mim mesma. Escrevia num papel qualquer que encontrava pela casa “Espero por você” ou alguma outra frase capaz de alegrar o dia de alguém, assinado pelo futuro. Encontrava ao acaso, e sorria sozinha. Gostava de imaginar que em alguma esquina estaria alguém que seria o dono dos próximos papéis.
Refletir sobre desapego me rodeia de tantas lembranças doidas e doídas que viajo e retorno à meu corpo somente ao cair da madrugada. Pela janela, continuo a observar. Enxergo de longe um ponto meio borrado devido aos meus olhos cansados, imagino que sejam amigos rindo de sua bebedeira, ou amantes trocando confidências. Em minha vida não há nenhum dos dois. Gostaria de ter alguém para passear durante a madrugada, rindo da vida enquanto somos abençoados pelas estrelas. Já experimentei essas sensações, inclusive. Mas ao despedir-me, voltava a ser só. Éramos eu e as paredes, trancafiadas como num regime semi-aberto. Todos não passavam de passatempos para a solidão. Cansada de tanto refletir, abri um de meus livros favoritos, gasto de tanto manuseio, e um papel caiu das páginas. Segurei-o e lá estava escrito: “Espero por você em nossa esquina que ainda não conheces. Ass: Futuro”. Sorri. Ah, futuro, sussurrava uma confidência para as paredes, como te espero.Gabriela Santarosa 
Sinto-me tão sozinha. Vejo pela janela do meu quarto tanta vida despreocupada dançando pela calçada, tanto carinho transbordando de olhos apaixonados, e invejo com toda a cobiça de sentimento alheio que uma alma é capaz de guardar. Há tanto lá fora, e eu aqui, trancafiada nos confins dessas quatro paredes que me fazem sentir numa prisão que me condenei por não gostar de meio-termo. Cansada estou de desapego - palavra essa que não deveria existir em dicionário, tampouco ser dita por língua. Impossível desapegar-se de algo que se apega, à menos que seja ilusão. Ah, mas a ilusão se apega, e devora. Sentimentos devoram, desgastam, esfolam, mas jamais se desapegam. Em meu peito fadigado, desapego não existe - se existe, não se mostra. O tempo não desapega de nada. Não, o tempo traz saudade do apego que se desapegou de mim. Lembro-me de quando desisti de me doer com tanto desapego, e passei a trazer felicidade à mim mesma. Escrevia num papel qualquer que encontrava pela casa “Espero por você” ou alguma outra frase capaz de alegrar o dia de alguém, assinado pelo futuro. Encontrava ao acaso, e sorria sozinha. Gostava de imaginar que em alguma esquina estaria alguém que seria o dono dos próximos papéis.
Refletir sobre desapego me rodeia de tantas lembranças doidas e doídas que viajo e retorno à meu corpo somente ao cair da madrugada. Pela janela, continuo a observar. Enxergo de longe um ponto meio borrado devido aos meus olhos cansados, imagino que sejam amigos rindo de sua bebedeira, ou amantes trocando confidências. Em minha vida não há nenhum dos dois. Gostaria de ter alguém para passear durante a madrugada, rindo da vida enquanto somos abençoados pelas estrelas. Já experimentei essas sensações, inclusive. Mas ao despedir-me, voltava a ser só. Éramos eu e as paredes, trancafiadas como num regime semi-aberto. Todos não passavam de passatempos para a solidão. Cansada de tanto refletir, abri um de meus livros favoritos, gasto de tanto manuseio, e um papel caiu das páginas. Segurei-o e lá estava escrito: “Espero por você em nossa esquina que ainda não conheces. Ass: Futuro”. Sorri. Ah, futuro, sussurrava uma confidência para as paredes, como te espero.
 
  "E quer saber? Eu te amo. Te amo muito, te amo tola, te amo menina, te amo chato, te amo sempre. Amo talvez até mais que o amor. Te sinto com palavras ainda desconhecidas pelo homem, porém pronunciadas no coração. Te preciso como o verão precisa do Sol. Sinto ao seu lado arrepios na espinha que nem imaginava existirem, de tão bons, de tão leves - por vezes, sinto poder voar em teus braços, pisar em nuvens. De tanto querer-te, desenhei nas folhas de meu caderno final feliz feito só para nós dois. E se a vida teimar em apagar nosso conto, inventamos outros, com finais melhores, com beijos mais lentos, com sorrisos mais doces. Para nós, criei eternidade, porque te amo, te amo e te amo."
 
 

 "A vida é assim mesmo, menino, surpreende, desgasta, esfola, transforma. Coração, em suas mãos, é brinquedo, pessoas são fantoches, tempo é remédio. O amor? Ah, o amor é cura! Por isso que eu sigo, que você segue, que nós seguimos. A gente não perde a esperança de encontrá-lo nas curvas da estrada. A gente não perde a fé e acredita na promessa do felizes-para-sempre. É, menino, pura loucura, eu bem sei, mas o coração tem dessas coisas mesmo, acredita no impossível. Cai, levanta e insiste em acreditar. De tanto acreditar, encontra." — 
"Vontade tenho de escrever tudo, traduzir meu peito, transbordar o papel, aliviar a angústia, espremer a tristeza. Esvaziar-me até que reste apenas coisas belas, bobas, boas e todos esses “b’s” que deixam a vida mais leve." —
  Um Criador de Solidão e seu Adeus.O disco repetia a música incansáveis vezes e em cada repetição criava um diálogo diferente entre nós, imaginando quando chegarias e tornarias pensamento em realidade. Disseste que o verias aparecer em meu portão na terça. Vesti meu vestido favorito e aguardei, aguardei e aguardei. Não vi sequer tentativa de telefonema, telegrama, ou sinal de fumaça. Naquele portão nada tinha além de angústia e uma saudade imensa temendo ser sentida apenas do lado de cá, no esquerdo de meu peito. Naquela noite, li nosso conto. Conseguindo, assim, descansar em paz por oito pequeninas horas. No dia seguinte, recebi seu recado. Na quinta, sem dúvida alguma, retornarias. Tuas palavras no papel, secas, sem um pingo de emoção, foram esquecidas por uma desculpa qualquer que fiz questão de inventar por ti. Ansiosa estava. Desta vez voltaria, pensava alegre. E, como na terça, vesti novamente meu vestido favorito e esperei, esperei, esperei. E mais uma vez, não chegaste nada de ti, nem aviso, nem corpo, nem uma mensagem dizendo não-pude-voltar-mas-te-sinto. Te sentia longe, mais do que a distância era capaz de levar. Estavas num planeta diferente, numa galáxia distante, com aquilo que até então chamara de meu-coração-tão-teu. Naquela noite, ouvi canção que lembrava teu cheiro, mas desta vez, o sono decidiu não me fazer companhia. A noite se transformara em dia e só notei quando já era tarde. Pensei em ti vezes sem conta, sonhei mesmo sem sono - sonhei acordada para encontrarmo-nos -, mas até em sonho ficaste distante. Não voltarias, pensei de súbito enquanto tomava café, deixando a xícara tombar e deixar o líquido fazer desenhos escuros na mesa. Não voltarias, pensei novamente enquanto o Sol se punha e pensava em teu rosto meio apagado de minha memória. Ao anoitecer, ousei pensar que nada eras além de sonho bom que partiu e virou pesadelo. Mas não era sonho, era real. Havias partido, levando consigo pedaço de mim. E eu, tão desacostumada a ser só depois que entraste pelo meu portão e me chamaste de “minha”, compreendi que precisaria reviver o pesadelo e voltar a ser só. Revivi nosso conjunto dias e dias, reli nosso conto até decorar cada palavra, ouvi nossa música e imaginei-te vendo chegar e me abraçar tantas vezes que já havia versão predileta - até desculpas inventei por sua ausência e desapego. Mas aqui, deitada nessa rede, escutando nossa música repetidamente, enxerguei o pesadelo. Apenas o “só” me faz companhia, apenas o “só” permaneceria, apenas o “só” me restava. E tão só me senti, que contos ou músicas tornaram-se incapazes de mudar aquilo que você virou em mim: uma promessa quebrada. Um silêncio eterno. Uma lembrança vazia. Um criador de solidão.Gabriela Santarosa  Um Criador de Solidão e seu Adeus.
O disco repetia a música incansáveis vezes e em cada repetição criava um diálogo diferente entre nós, imaginando quando chegarias e tornarias pensamento em realidade. Disseste que o verias aparecer em meu portão na terça. Vesti meu vestido favorito e aguardei, aguardei e aguardei. Não vi sequer tentativa de telefonema, telegrama, ou sinal de fumaça. Naquele portão nada tinha além de angústia e uma saudade imensa temendo ser sentida apenas do lado de cá, no esquerdo de meu peito. Naquela noite, li nosso conto. Conseguindo, assim, descansar em paz por oito pequeninas horas. No dia seguinte, recebi seu recado. Na quinta, sem dúvida alguma, retornarias. Tuas palavras no papel, secas, sem um pingo de emoção, foram esquecidas por uma desculpa qualquer que fiz questão de inventar por ti. Ansiosa estava. Desta vez voltaria, pensava alegre. E, como na terça, vesti novamente meu vestido favorito e esperei, esperei, esperei. E mais uma vez, não chegaste nada de ti, nem aviso, nem corpo, nem uma mensagem dizendo não-pude-voltar-mas-te-sinto. Te sentia longe, mais do que a distância era capaz de levar. Estavas num planeta diferente, numa galáxia distante, com aquilo que até então chamara de meu-coração-tão-teu. Naquela noite, ouvi canção que lembrava teu cheiro, mas desta vez, o sono decidiu não me fazer companhia. A noite se transformara em dia e só notei quando já era tarde. Pensei em ti vezes sem conta, sonhei mesmo sem sono - sonhei acordada para encontrarmo-nos -, mas até em sonho ficaste distante. Não voltarias, pensei de súbito enquanto tomava café, deixando a xícara tombar e deixar o líquido fazer desenhos escuros na mesa. Não voltarias, pensei novamente enquanto o Sol se punha e pensava em teu rosto meio apagado de minha memória. Ao anoitecer, ousei pensar que nada eras além de sonho bom que partiu e virou pesadelo. Mas não era sonho, era real. Havias partido, levando consigo pedaço de mim. E eu, tão desacostumada a ser só depois que entraste pelo meu portão e me chamaste de “minha”, compreendi que precisaria reviver o pesadelo e voltar a ser só. Revivi nosso conjunto dias e dias, reli nosso conto até decorar cada palavra, ouvi nossa música e imaginei-te vendo chegar e me abraçar tantas vezes que já havia versão predileta - até desculpas inventei por sua ausência e desapego. Mas aqui, deitada nessa rede, escutando nossa música repetidamente, enxerguei o pesadelo. Apenas o “só” me faz companhia, apenas o “só” permaneceria, apenas o “só” me restava. E tão só me senti, que contos ou músicas tornaram-se incapazes de mudar aquilo que você virou em mim: uma promessa quebrada. Um silêncio eterno. Uma lembrança vazia. Um criador de solidão.
"Abria meus braços ao vento tentando levar algo meu até você. Me enchia de sua bebida favorita tentando trazer um pedaço teu até mim. Fazia de tuas manias, minhas. Pintava-me com teus detalhes. Imitava teu olhar indiferente e descartava minha pose de moça afável que usava em dias tristes. Quero te trazer pra mim. Quero ir ao teu encontro. Quero nós." — 
  Uma sala. Um eu. Muito amor.Cá estou, largada nesse sofá, com meu travesseiro de fronha colorida amassado entre as pernas enquanto escrevo mais um drama-de-minha-vida-banal. E assim, de repente, como um despertador esquecido acionado em algum canto da casa, você vem. Manso. Lento. Vejo aquele ator bonitão na televisão que tem os cabelos no mesmo tom escuro que o seu, e recordo daquele passeio que demos num dia de vento em que seu cabelo se pareceu com o daqueles largados que consideravam pente uma arma letal para seu eu-lírico. E eu, como caçadora de você que sou, procurei pedaços de sua existência naquela sala vazia de móveis e transbordante de vontade de te trazer até mim. De tanto procurar, encontrei aquele romance em que o casal nada mais faziam além de brigar, e após a briga nada mais faziam além de se beijar e se declarar como se no mundo não existisse a palavra discussão. Lembro daquele domingo em que, lendo o livro, disse que se parecia com você. “Ele é loiro, eu não”, disse ofendido, como se comparando-te à um personagem tirasse seu jeito ímpar. Eu te achava único, das formas mais absurdas e belas. Em todos os lugares te encontrava, e mesmo assim, tinha certeza de que jamais verei alguém como você. Era confuso demais, complicado demais, não entenderias, então deixava para lá, sempre te enxergando em histórias e lugares que sempre teimava que nada tinham de semelhantes consigo. Mas insistia, porque sabia muito bem que te vejo como nenhuma outra pessoa nesse mundo ou em outros conseguirá ver. Via-te mau humorado e impaciente, sabendo que não havia melhor companheiro para me aguentar numa noite sem vontade de sair ou conversar - noites silenciosas eram compreendidas por ti, que tanto sabia dessa minha vontade de ser tudo e não me sentir nada. Via-te arrogante quando pensavas estar certo, com aquele seu olhar de eu-sei-tudo-de-tudo-e-você-nada-sabe, com a certeza de que nada sabias sobre meu modo de te amar, querendo tudo e tentando não querer absolutamente nada por medo de te assustar. Via-te humano, apesar de pensar que se parecia muito com um anjo, sempre protegendo, sempre junto, sempre criando em minha cabeça um “sempre” diferente para imaginar nós dois. De repente não existe mais fronha colorida, texto à ser escrito ou ator bonitão se fazendo de coitadinho na novela. De repente, estou num mundo onde só existe sua presença e minha vontade de dedicar-lhe esse amor que, apesar de tão humano ser, não deixava de ser belo, de ser nosso. Anulo tudo à minha volta para tentar fazer esse amor caber nessa sala grande demais para mim, porém pequena demais para ele, porque sei que sem ele, não mais existirei.Gabriela Santarosa Uma sala. Um eu. Muito amor.
Cá estou, largada nesse sofá, com meu travesseiro de fronha colorida amassado entre as pernas enquanto escrevo mais um drama-de-minha-vida-banal. E assim, de repente, como um despertador esquecido acionado em algum canto da casa, você vem. Manso. Lento. Vejo aquele ator bonitão na televisão que tem os cabelos no mesmo tom escuro que o seu, e recordo daquele passeio que demos num dia de vento em que seu cabelo se pareceu com o daqueles largados que consideravam pente uma arma letal para seu eu-lírico. E eu, como caçadora de você que sou, procurei pedaços de sua existência naquela sala vazia de móveis e transbordante de vontade de te trazer até mim. De tanto procurar, encontrei aquele romance em que o casal nada mais faziam além de brigar, e após a briga nada mais faziam além de se beijar e se declarar como se no mundo não existisse a palavra discussão. Lembro daquele domingo em que, lendo o livro, disse que se parecia com você. “Ele é loiro, eu não”, disse ofendido, como se comparando-te à um personagem tirasse seu jeito ímpar. Eu te achava único, das formas mais absurdas e belas. Em todos os lugares te encontrava, e mesmo assim, tinha certeza de que jamais verei alguém como você. Era confuso demais, complicado demais, não entenderias, então deixava para lá, sempre te enxergando em histórias e lugares que sempre teimava que nada tinham de semelhantes consigo. Mas insistia, porque sabia muito bem que te vejo como nenhuma outra pessoa nesse mundo ou em outros conseguirá ver. Via-te mau humorado e impaciente, sabendo que não havia melhor companheiro para me aguentar numa noite sem vontade de sair ou conversar - noites silenciosas eram compreendidas por ti, que tanto sabia dessa minha vontade de ser tudo e não me sentir nada. Via-te arrogante quando pensavas estar certo, com aquele seu olhar de eu-sei-tudo-de-tudo-e-você-nada-sabe, com a certeza de que nada sabias sobre meu modo de te amar, querendo tudo e tentando não querer absolutamente nada por medo de te assustar. Via-te humano, apesar de pensar que se parecia muito com um anjo, sempre protegendo, sempre junto, sempre criando em minha cabeça um “sempre” diferente para imaginar nós dois. De repente não existe mais fronha colorida, texto à ser escrito ou ator bonitão se fazendo de coitadinho na novela. De repente, estou num mundo onde só existe sua presença e minha vontade de dedicar-lhe esse amor que, apesar de tão humano ser, não deixava de ser belo, de ser nosso. Anulo tudo à minha volta para tentar fazer esse amor caber nessa sala grande demais para mim, porém pequena demais para ele, porque sei que sem ele, não mais existirei.
  Olhando tudo à minha volta, me peguei observando atentamente os pares. Pares de amigos fazendo palhaçadas só para terem comentários no próximo encontro. Pares de casais desfrutando sua paixão. Pares de plantas enfeitando vasos. Pares de cores formando desenhos em quadros. Pares de cães passeando e brincando com seus donos. Pares. Encaixes que, unidos, se completam. Tudo nessa vida era par. Pensar nisso fez minha cabeça girar. Me encolhi e encostei a cabeça entre os joelhos sentindo vertigem e um aperto agudo no fundo do peito e tive uma súbita e arrebatadora vontade de sumir. Queria sumir para os confins da terra e ficar o resto da vida por lá. Queria sumir com essa vontade de sumir sabendo que ninguém tentaria me encontrar. Queria sumir porque doía demais essa sensação de que não tinha e não era de ninguém. Doía enxergar que entre tantos pares, eu era ímpar.(Gabriela Santarosa) 
Olhando tudo à minha volta, me peguei observando atentamente os pares. Pares de amigos fazendo palhaçadas só para terem comentários no próximo encontro. Pares de casais desfrutando sua paixão. Pares de plantas enfeitando vasos. Pares de cores formando desenhos em quadros. Pares de cães passeando e brincando com seus donos. Pares. Encaixes que, unidos, se completam. Tudo nessa vida era par. Pensar nisso fez minha cabeça girar. Me encolhi e encostei a cabeça entre os joelhos sentindo vertigem e um aperto agudo no fundo do peito e tive uma súbita e arrebatadora vontade de sumir. Queria sumir para os confins da terra e ficar o resto da vida por lá. Queria sumir com essa vontade de sumir sabendo que ninguém tentaria me encontrar. Queria sumir porque doía demais essa sensação de que não tinha e não era de ninguém. Doía enxergar que entre tantos pares, eu era ímpar.


Gosto muito dela, mas ela me dói. E dói muito. Dói tanto que nem penso em desistir, seria covardia. Dor fraca não muda ninguém, só faz com que fiquemos sem acreditar no porvir. Quando encaramos a dor, a certeza de que ela vai passar aumenta. A vida nos dói, as pessoas nos doem e nós nos doemos. Viver não é obrigação, nunca foi e nunca vai ser. Mas se a gente não vive, a vida continua, as pessoas passam e a dor nunca acaba. A cura vem com a vida vivida. Sem medos e sem aspas. Curativos só escondem e não curam nada. Nós precisamos mesmo é respirar aliviados. Vida não é sinônimo de dor, mas as danadas são inevitáveis. Fica tranquilo, amigo, as dores também passam. Tal como a vida.


"Tristeza, pensei, não se cura. Tristeza se sufoca com sorriso, com doçura - com qualquer sensação capaz de esconder a angústia presente nos olhos." — 
  Três da tarde já se faz presente em minh’alma desanimada. Tardes parecem-me tão vazias. Não havia a esperança ilusória junto do céu da manhã, tampouco a intensidade que apenas a escuridão da noite traz em meu peito. No café não encontro gosto doce ou amargo, em verdade creio que se transformou em água. Nos livros, as juras de amor eterno parecem-me falsas e ultrapassadas. Em verdade, as horas da tarde tirou-me o brilho das coisas. Ou talvez, seja apenas falta do teu afago manso que me tira os sentidos ao mesmo tempo em que os intensifica. Encontramo-nos manhãs e noites, mas nunca em tardes. E, para mim, era como se elas fossem as responsáveis por não estares ao meu lado neste exato momento. Todas as tardes, sua presença era furtada sem piedade alguma do tempo, restando-me apenas maldizer as horas até que retornes e me tires o juízo. Pois sim, de todas as boas sensações que me davas, a impossibilidade de pensar era a que mais agradava. Olhando para teus olhos, sentindo teu gosto, não havia como pensar em deixar-te antes que o fizesse comigo. De partidas, já estava cansada. E, em algum lugar de meu cérebro, uma voz sussurrava que irias partir. Não hoje, nem amanhã, mas algum dia - um sábado nublado ou uma quarta-feira de cinzas, quem poderia saber? - irias partir. Em mim, nada mais restaria além dessa vontade de não ter mais ninguém misturada com uma vontade absurda de ter alguém apenas para provar que o primeiro desejo estava errado. Eu, menina sonhadora, sou incapaz de pensar que nasci para ser só, e mesmo quando penso ter certeza disso, vem paixão e revigora, cala-me, devasta-me e perco noção de sentido ou direção, e assim voltava à ser feliz em meu mundo onde o amor existia. Tanto te amava, que precisava de você para saber que aquilo que sentia era amor - que, de tão grande, era como se nada sentisse; e, quando distante estavas, era como se nada nesse mundo existisse. Em sua ausência, não havia cores, rostos, corpos. Em sua ausência, não havia eu. Que, de tanto amar, já era você. As tardes te afastavam, e faziam tudo parar de existir, inclusive eu. Por isso tanto gostava das manhãs e das noites. Era quando eu, em teu colo, sentia-me tua, e voltava a me ser.(Gabriela Santarosa) 
Três da tarde já se faz presente em minh’alma desanimada. Tardes parecem-me tão vazias. Não havia a esperança ilusória junto do céu da manhã, tampouco a intensidade que apenas a escuridão da noite traz em meu peito. No café não encontro gosto doce ou amargo, em verdade creio que se transformou em água. Nos livros, as juras de amor eterno parecem-me falsas e ultrapassadas. Em verdade, as horas da tarde tirou-me o brilho das coisas. Ou talvez, seja apenas falta do teu afago manso que me tira os sentidos ao mesmo tempo em que os intensifica. Encontramo-nos manhãs e noites, mas nunca em tardes. E, para mim, era como se elas fossem as responsáveis por não estares ao meu lado neste exato momento. Todas as tardes, sua presença era furtada sem piedade alguma do tempo, restando-me apenas maldizer as horas até que retornes e me tires o juízo. Pois sim, de todas as boas sensações que me davas, a impossibilidade de pensar era a que mais agradava. Olhando para teus olhos, sentindo teu gosto, não havia como pensar em deixar-te antes que o fizesse comigo. De partidas, já estava cansada. E, em algum lugar de meu cérebro, uma voz sussurrava que irias partir. Não hoje, nem amanhã, mas algum dia - um sábado nublado ou uma quarta-feira de cinzas, quem poderia saber? - irias partir. Em mim, nada mais restaria além dessa vontade de não ter mais ninguém misturada com uma vontade absurda de ter alguém apenas para provar que o primeiro desejo estava errado. Eu, menina sonhadora, sou incapaz de pensar que nasci para ser só, e mesmo quando penso ter certeza disso, vem paixão e revigora, cala-me, devasta-me e perco noção de sentido ou direção, e assim voltava à ser feliz em meu mundo onde o amor existia. Tanto te amava, que precisava de você para saber que aquilo que sentia era amor - que, de tão grande, era como se nada sentisse; e, quando distante estavas, era como se nada nesse mundo existisse. Em sua ausência, não havia cores, rostos, corpos. Em sua ausência, não havia eu. Que, de tanto amar, já era você. As tardes te afastavam, e faziam tudo parar de existir, inclusive eu. Por isso tanto gostava das manhãs e das noites. Era quando eu, em teu colo, sentia-me tua, e voltava a me ser.
 
 

  - Se tem coisa certa nessa vida, é o adeus - Dizia Ana sentada sobre a pia da cozinha. Era estranho, mas lhe agradava ficar ali observando o jogo de luzes que penetravam pela janela de vidro, brincando com as cores do azulejo. Luzes, era completamente apaixonada por elas, tanto quanto era apaixonado por ele. Ele, lembrar-se dele lhe intensificou a dor. Lembrava-se bem de sua luz, a primeira coisa à fez prestar atenção naquele corpo visivelmente deslocado no grande salão. “Vai ter uma festa”, disse a amiga, “eu sei que você não quer ir, mas precisa, entendeu? Simplesmente… precisa”. Apesar de achar a insistência estranha, foi. E lá o encontrou. Sacudiu a cabeça tentando pensar em outra coisa. Lembrar dele não melhoraria nada. Ele fora embora. Assim, como se não quisesse, mas precisasse. E ela ficou, sem entender coisa alguma. Ana sabia que seria assim, “Afinal, tudo sempre foi assim. Entrar sem pedir licença, deixar marcas nas paredes, e partir. E eu fico, para ser devastada com aquilo que restou”. Partidas machucavam, mas sem dúvida, aquilo que mais à magoava, eram partidas sem adeus definitivo. Encostou as costas na parede fria, e sussurrou as exatas palavras que havia lhe dito: - Bem, a gente se vê. - repetiu vezes sem conta - A gente se vê. A gente se vê. A gente se vê… Agora ela vivia aguardando seu retorno. Uma ligação impessoal - ele perguntaria como ela estava, e ela responderia com a voz trêmula “estou com saudade”. Ou então, daria duas batidas leves na porta como sempre fez, fazendo-a abri-la e pular em seus braços logo depois, seu rosto afundando na curva de seu pescoço. Ele acariciaria sua cintura enquanto ela sussurrava com certa indignação “O que é que você tanto fez para demorar a voltar?”, e ele a ignoraria com um riso manso, enchendo seu peito de alívio. Ana apertaria seu rosto entre suas mãos, beijaria cada pequeno detalhe procurando convencer-se de que não era fruto de sua imaginação. Voltariam a tornar-se um só.- Eu e minha mania de sonhar acordada. - sussurrou para si mesma, formando um sorriso triste nos lábios rosados. Sabia que nada daquilo aconteceria. Estava só. Perdida e só. Perdida, só e cheia de saudade de alguém sem previsão de retorno. Abraçou a si mesma, desolada. Seu último pensamento racional fora que se sentia tão fria quando os azulejos, se entregando as lágrimas em seguida. (Gabriela Santarosa) 
- Se tem coisa certa nessa vida, é o adeus - Dizia Ana sentada sobre a pia da cozinha. Era estranho, mas lhe agradava ficar ali observando o jogo de luzes que penetravam pela janela de vidro, brincando com as cores do azulejo. Luzes, era completamente apaixonada por elas, tanto quanto era apaixonado por ele. Ele, lembrar-se dele lhe intensificou a dor. Lembrava-se bem de sua luz, a primeira coisa à fez prestar atenção naquele corpo visivelmente deslocado no grande salão. “Vai ter uma festa”, disse a amiga, “eu sei que você não quer ir, mas precisa, entendeu? Simplesmente… precisa”. Apesar de achar a insistência estranha, foi. E lá o encontrou. Sacudiu a cabeça tentando pensar em outra coisa. Lembrar dele não melhoraria nada. Ele fora embora. Assim, como se não quisesse, mas precisasse. E ela ficou, sem entender coisa alguma. Ana sabia que seria assim, “Afinal, tudo sempre foi assim. Entrar sem pedir licença, deixar marcas nas paredes, e partir. E eu fico, para ser devastada com aquilo que restou”. Partidas machucavam, mas sem dúvida, aquilo que mais à magoava, eram partidas sem adeus definitivo. Encostou as costas na parede fria, e sussurrou as exatas palavras que havia lhe dito: - Bem, a gente se vê. - repetiu vezes sem conta - A gente se vê. A gente se vê. A gente se vê… 
Agora ela vivia aguardando seu retorno. Uma ligação impessoal - ele perguntaria como ela estava, e ela responderia com a voz trêmula “estou com saudade”. Ou então, daria duas batidas leves na porta como sempre fez, fazendo-a abri-la e pular em seus braços logo depois, seu rosto afundando na curva de seu pescoço. Ele acariciaria sua cintura enquanto ela sussurrava com certa indignação “O que é que você tanto fez para demorar a voltar?”, e ele a ignoraria com um riso manso, enchendo seu peito de alívio. Ana apertaria seu rosto entre suas mãos, beijaria cada pequeno detalhe procurando convencer-se de que não era fruto de sua imaginação. Voltariam a tornar-se um só.
- Eu e minha mania de sonhar acordada. - sussurrou para si mesma, formando um sorriso triste nos lábios rosados. Sabia que nada daquilo aconteceria. Estava só. Perdida e só. Perdida, só e cheia de saudade de alguém sem previsão de retorno. Abraçou a si mesma, desolada. Seu último pensamento racional fora que se sentia tão fria quando os azulejos, se entregando as lágrimas em seguida. 
 
"Cansei de me sentir sozinha. Cansei de tanta mentira. Cansei dos dias iguais, da rotina. Cansei de mim e de me deixar sempre em última opção. Cansei de procurar meus amigos. Cansei de mentir pra mim, pra ver se dói menos. Cansei de me preocupar com quem não se preocupa comigo. Cansei de sofrer e de acordar indisposta, cansei de sentir o coração bater mais forte, com uma sensação de arrependimento, de erro. Cansei de tudo." — 
  Enxergava as pessoas como parte de um mundo adoecido e sem vergonha de descartar sentimentos como se não passassem de um pedaço de papel rabiscado com desenhos infantis. Depois pensava que, afinal, adoecida estava eu, pensando que ainda poderia acreditar em bondade vinda de tanta gente cruel. Penso o que a esperança diria se visse tamanho antônimo dentro de meu peito que antes era sua casa. “Não, menina, as coisas não são assim não”, diria com voz mansa, tentando apaziguar minha vontade de correr para dentro de mim e jamais aparecer para ninguém mais. Mas nada adiantaria. Porque em mim o cansaço se fazia presente e mais forte do que qualquer vontade de desenhar um sorriso nos lábios e sair pelas ruas pintando o céu de azul como se fosse aquela pessoa despreocupada que o mundo sente inveja. 
Havia, enfim, desistido. Não por covardia, tampouco desprezo. Desistira por fraqueza. Sim, minhas forças se esgotaram, e você, tolo - ou matreiro, não sei bem - não se preocupou em dar-me abraço, afago ou carinho qualquer que me desse força nos joelhos para correr mais um fim de tarde para aqueles braços que tanto sonhava ter em minha cintura durante a noite. Mas a culpa não foi tua, ouso pensar, foi minha. Minha e de mania autodestrutiva de enxergar árvore em quem só me vê como folha seca e quebradiça. Queria quem me enxergasse como rosa, bela, porém com espinhos, ou como temporal, sempre surpreendendo. Queria que alguém me lesse a alma pelos olhos, enxergasse a tristeza e o medo atrás de cada sorriso leve. Queria tantas coisas, que acabava entregando meu coração para quem não sabia o que fazer com ele, e permitia que me ferissem até não conseguir mais levantar da cama. O sol da manhã invadia as frestas da janela e convidava-me para abraçar o novo dia. Os lençóis cobriram meu rosto para espantar as horas ensolaradas que se aproximavam. E eu, com o rosto prensado no travesseiro, com esperanças de, talvez, ser absorvida até desaparecer, pensava em angústia. E já não queria isso, não mais. Havia, enfim, desistido das pessoas. Decidi cuidar de mim. (Gabriela Santarosa) 
Enxergava as pessoas como parte de um mundo adoecido e sem vergonha de descartar sentimentos como se não passassem de um pedaço de papel rabiscado com desenhos infantis. Depois pensava que, afinal, adoecida estava eu, pensando que ainda poderia acreditar em bondade vinda de tanta gente cruel. Penso o que a esperança diria se visse tamanho antônimo dentro de meu peito que antes era sua casa. “Não, menina, as coisas não são assim não”, diria com voz mansa, tentando apaziguar minha vontade de correr para dentro de mim e jamais aparecer para ninguém mais. Mas nada adiantaria. Porque em mim o cansaço se fazia presente e mais forte do que qualquer vontade de desenhar um sorriso nos lábios e sair pelas ruas pintando o céu de azul como se fosse aquela pessoa despreocupada que o mundo sente inveja. 
Havia, enfim, desistido. Não por covardia, tampouco desprezo. Desistira por fraqueza. Sim, minhas forças se esgotaram, e você, tolo - ou matreiro, não sei bem - não se preocupou em dar-me abraço, afago ou carinho qualquer que me desse força nos joelhos para correr mais um fim de tarde para aqueles braços que tanto sonhava ter em minha cintura durante a noite. Mas a culpa não foi tua, ouso pensar, foi minha. Minha e de mania autodestrutiva de enxergar árvore em quem só me vê como folha seca e quebradiça. Queria quem me enxergasse como rosa, bela, porém com espinhos, ou como temporal, sempre surpreendendo. Queria que alguém me lesse a alma pelos olhos, enxergasse a tristeza e o medo atrás de cada sorriso leve. Queria tantas coisas, que acabava entregando meu coração para quem não sabia o que fazer com ele, e permitia que me ferissem até não conseguir mais levantar da cama. O sol da manhã invadia as frestas da janela e convidava-me para abraçar o novo dia. Os lençóis cobriram meu rosto para espantar as horas ensolaradas que se aproximavam. E eu, com o rosto prensado no travesseiro, com esperanças de, talvez, ser absorvida até desaparecer, pensava em angústia. E já não queria isso, não mais. Havia, enfim, desistido das pessoas. Decidi cuidar de mim.
 
"Uma menina
Um violão
E um coração do tamanho do mundo." —
"Dentro de seu peito jazia um coração cansado de amar errado, de amar doído, dessa ilusão traiçoeira que se veste de amor para invadi-la e sequestrar sua alegria na calada da noite. Tantas faces a mentira tinha, que se fazia de verdade. E apesar de tantas vezes ter sido ferida, ela acreditava com todo aquele coração de menina-moça que pensa saber todas as verdades do mundo, mas no fundo nada sabe, abria as portas e janelas, e de novo caía no conto-do-amor-eterno, que nada mais é além do conto-do-amor-mentiroso." —
  Oh céus, tão fraca tenho sido nessas curvas íngremes. Uma vertigem descontrolável me duplica, triplica, quadriplica a vida. E em todos esses caminhos, é a mesma sombra que encontra-se no fim. Não sei ao certo se por destino, acaso, ou de tanto pedir as nuvens que coloque ele em meu caminho. Porque eu sei, no fundo do meu peito dilacerado, eu sei que ele vai embora. E se assim for a vontade do céu, que assim seja. Mas, por favor, eu peço para quem propor-se à ouvir, traga-o de volta. Leve o tempo que quiser escondendo-o de mim, jamais reclamarei - ou pelo menos, tentarei não fazê-lo -, mas que em um dia de inverno, em um cybercafé tranquilo, ele apareça como quem não quer nada e casualmente sente em minha mesa, fazendo um de seus comentários sobre meus livros de mulherzinha e dizendo que nada em mim mudou, pintando em meus lábios um sorriso bobo por pensar que ali estava propositalmente, sabendo de minha paixão por literatura, somada a minha obsessão por capuccino que só à ele havia admitido. Depositaria então meu livro carinhosamente em minha bolsa e uniria minhas mãos trêmulas para conversarmos sobre qualquer banalidade até minha língua confessar toda a saudade que senti. 
E eu saberia que algo havia mudado. Em verdade, sentia como se estivesse em um de meus livros, onde o mocinho volta para os braços de sua amada e diz que jamais partirá, pois é ela seu motivo. E apesar de soar tão falsa a frase, eu acreditaria. E apesar de tão clichê ser tal frase, sorriria enternecida e ficaria contente pelos próximos mil dias apenas lembrando seu olhar me dizendo tais palavras. Eu pediria para que jamais fosse embora novamente. Se fosse de sua vontade partir, que no próximo final de semana me encontrasse em nossa praça favorita - onde, como sempre, riria do meu olhar encantado imaginando dragões desenhados pelas nuvens - e passasse comigo algumas horas, ou minutos que sejam, mas que tratariam de trazer felicidade para toda minha semana com sua ausência. E que, ao final de cada semana, volte, tome e proclame o que por direito sempre lhe pertenceu. Eu não me importava de esperar-te, sabendo que voltaria e me preencheria e comigo sonharia. Jamais lhe reprimiria a partida, com a condição que retornes para meus braços, para todo o sempre.(Gabriela Santarosa) 
Oh céus, tão fraca tenho sido nessas curvas íngremes. Uma vertigem descontrolável me duplica, triplica, quadriplica a vida. E em todos esses caminhos, é a mesma sombra que encontra-se no fim. Não sei ao certo se por destino, acaso, ou de tanto pedir as nuvens que coloque ele em meu caminho. Porque eu sei, no fundo do meu peito dilacerado, eu sei que ele vai embora. E se assim for a vontade do céu, que assim seja. Mas, por favor, eu peço para quem propor-se à ouvir, traga-o de volta. Leve o tempo que quiser escondendo-o de mim, jamais reclamarei - ou pelo menos, tentarei não fazê-lo -, mas que em um dia de inverno, em um cybercafé tranquilo, ele apareça como quem não quer nada e casualmente sente em minha mesa, fazendo um de seus comentários sobre meus livros de mulherzinha e dizendo que nada em mim mudou, pintando em meus lábios um sorriso bobo por pensar que ali estava propositalmente, sabendo de minha paixão por literatura, somada a minha obsessão por capuccino que só à ele havia admitido. Depositaria então meu livro carinhosamente em minha bolsa e uniria minhas mãos trêmulas para conversarmos sobre qualquer banalidade até minha língua confessar toda a saudade que senti.
E eu saberia que algo havia mudado. Em verdade, sentia como se estivesse em um de meus livros, onde o mocinho volta para os braços de sua amada e diz que jamais partirá, pois é ela seu motivo. E apesar de soar tão falsa a frase, eu acreditaria. E apesar de tão clichê ser tal frase, sorriria enternecida e ficaria contente pelos próximos mil dias apenas lembrando seu olhar me dizendo tais palavras. Eu pediria para que jamais fosse embora novamente. Se fosse de sua vontade partir, que no próximo final de semana me encontrasse em nossa praça favorita - onde, como sempre, riria do meu olhar encantado imaginando dragões desenhados pelas nuvens - e passasse comigo algumas horas, ou minutos que sejam, mas que tratariam de trazer felicidade para toda minha semana com sua ausência. E que, ao final de cada semana, volte, tome e proclame o que por direito sempre lhe pertenceu. Eu não me importava de esperar-te, sabendo que voltaria e me preencheria e comigo sonharia. Jamais lhe reprimiria a partida, com a condição que retornes para meus braços, para todo o sempre.
 
"Menina-moça, tentaram me fazer acreditar que o amor não existe e que sonhos estão fora de moda. Cavaram um buraco bem fundo e tentaram enterrar todos os meus desejos, um a um, como fizeram com os deles. Mas como menina-teimosa que sou, ainda insisto em desentortar os caminhos. Em construir castelos sem pensar nos ventos. Em buscar verdades enquanto elas tentam fugir de mim. A manter meu buquê de sorrisos no rosto, sem perder a vontade de antes. Porque aprendi com a Dona Chica, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. Dá sempre pra tirar um coelho da cartola. E lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cegas, às vezes meio burras, tentar acertar os passos. Sem me preocupar se a próxima etapa será o tombo ou o voo. Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim. O destino da felicidade, me foi traçado no berço. Disse um certo pai Ogum." —
"Cuide-se, meu bem. Preencha seu pote com alegria até transbordar, e partilhe com quem nada tem. Dance sozinho na calçada ao som de uma melodia qualquer em que o refrão diga que a vida é agora e não podemos deixá-la esperar. Vá ao parque com alegria de criança e brinque com a grama, alimente os pombos e tome sorvete sem se importar que está derretendo rápido demais e vai sujar toda sua camiseta branca. Alugue seu filme favorito e assista vezes sem conta, até decorar cada pequeno gesto do personagem. Observe as flores dançarem com o vento sua melodia silenciosa, enxergue além das cores do céu. Se deixe levar pela felicidade e diga o quão bela está sua vida e que jamais se permitirá ficar triste, mesmo que saibas da solidão que virá ao cair da noite. Deixe que te olhem, apontem e se contagiem com sua simplicidade. Mostre para quem quiser ver que a felicidade é uma dádiva que todos temos dentro de nós, só basta descobrir em qual gaveta ela se escondeu. Vá até seu restaurante favorito e divirta-se observando o comportamento das pessoas. Sinta-se feliz por se ter. Lembre-se todas as noites a beleza do dia anterior, e sonhe com o novo dia que chega. Quando estiver triste, saiba que jamais estará só. Se abrace, meu bem, se ame, se baste." — 
"Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso. Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa. Quando você se sente cansado, mas não consegue dormir." — 

 
Queria escrever à ti a carta mais extensa, recheada com as palavras mais belas e a mais extravagante ortografia que meus dedos nada ágeis seriam capazes de fazer. Mas aqui, neste quarto mal iluminado, observando esta imensidão vazia dentro do papel, creio que jamais seria possível escrever quão intenso são meus sentimentos.Agora, observo a luz da cidade pela janela, revivendo nossos momentos juntos, degustando devagar cada palavra dita, cada gesto inocente que a simples lembrança me trazem formigamentos na pele. Recordo bem daquele dia das mãos dadas - não trago na memória o lugar em que estávamos, uma vez que quando sinto seu toque, o resto evapora como num passe de mágica  -, andávamos com os dedos entrelaçados, ignorando qualquer vestígio de outros seres ou outros mundos. Naquele momento, éramos nós, eu e você, entrelaçados por dedos infinitos que se uniam e, dentro de mim, jamais seriam separados. Eu já não era apenas eu - era também você, assim como você era eu - éramos dois-em-um.Voltando de meus devaneios no escuro, senti a brisa da janela balançar meus fios de cabelo, transportando-me novamente à uma nova lembrança. Esta, mais vívida que as anteriores por motivos que nunca soube decifrar. Talvez fosse aquela lua cheia que fez seus olhos brilharem mais, talvez fosse aquele abraço capaz de fazer milagre, ou talvez fossem aquelas palavras ditas de maneira tão doce e séria, tão eu-e-você. Você encaixou minha cabeça no seu pescoço e me apertou quase me sufocando de amor, sussurrando em meu ouvido, fazendo cócegas em minha orelha “Eu quero ficar com você, sempre”. Naquele momento, não passara pela minha cabeça que você era mais do que uma pequena chama de alegria que a vida pusera em meu caminho para me manter a fé. Ouvindo seus lábios cheios dizerem aquilo, fez tudo ficar tão certo, tão confuso, finalmente entendi. Éramos opostos, mas diferentes. Éramos opostos que, juntos, se somavam, jamais anulando-se. Éramos nós que não desatam. Entre tantos enganos, tantos erros e acertos, tantas coisas que me doeram o peito, era bom saber que finalmente havia encontrado aquilo que há tempos perdia a esperança de encontrar, e isso me encheu de uma vontade de você que meu coração diz que jamais será saciada. Acabei, por fim, escrevendo em incontáveis linhas desta carta “sinto vontade de você”, pensando que havia feito uma de minhas cartas mais sinceras, apesar do vocabulário extremamente simples - apesar de sabermos e concordarmos que a simplicidade torna tudo mais belo.Assim, termino esta carta, não dizendo que sinto saudade, fato comum em meu dia. Sentir sua falta é tão involuntário quanto respirar, e quando não sinto, é porque fui presenteada com sua presença. Terminarei esta carta dizendo que te sinto nesse coração nada solitário que te pertence desde sempre. Digo-lhe um até logo, com a certeza de que mais cartas escreverei.Com todo o meu amor,                              Seu amor.(Gabriela Santarosa)
Queria escrever à ti a carta mais extensa, recheada com as palavras mais belas e a mais extravagante ortografia que meus dedos nada ágeis seriam capazes de fazer. Mas aqui, neste quarto mal iluminado, observando esta imensidão vazia dentro do papel, creio que jamais seria possível escrever quão intenso são meus sentimentos.


Agora, observo a luz da cidade pela janela, revivendo nossos momentos juntos, degustando devagar cada palavra dita, cada gesto inocente que a simples lembrança me trazem formigamentos na pele. Recordo bem daquele dia das mãos dadas - não trago na memória o lugar em que estávamos, uma vez que quando sinto seu toque, o resto evapora como num passe de mágica  -, andávamos com os dedos entrelaçados, ignorando qualquer vestígio de outros seres ou outros mundos. Naquele momento, éramos nós, eu e você, entrelaçados por dedos infinitos que se uniam e, dentro de mim, jamais seriam separados. Eu já não era apenas eu - era também você, assim como você era eu - éramos dois-em-um.
Voltando de meus devaneios no escuro, senti a brisa da janela balançar meus fios de cabelo, transportando-me novamente à uma nova lembrança. Esta, mais vívida que as anteriores por motivos que nunca soube decifrar. Talvez fosse aquela lua cheia que fez seus olhos brilharem mais, talvez fosse aquele abraço capaz de fazer milagre, ou talvez fossem aquelas palavras ditas de maneira tão doce e séria, tão eu-e-você. Você encaixou minha cabeça no seu pescoço e me apertou quase me sufocando de amor, sussurrando em meu ouvido, fazendo cócegas em minha orelha “Eu quero ficar com você, sempre”. Naquele momento, não passara pela minha cabeça que você era mais do que uma pequena chama de alegria que a vida pusera em meu caminho para me manter a fé. Ouvindo seus lábios cheios dizerem aquilo, fez tudo ficar tão certo, tão confuso, finalmente entendi. Éramos opostos, mas diferentes. Éramos opostos que, juntos, se somavam, jamais anulando-se. Éramos nós que não desatam. Entre tantos enganos, tantos erros e acertos, tantas coisas que me doeram o peito, era bom saber que finalmente havia encontrado aquilo que há tempos perdia a esperança de encontrar, e isso me encheu de uma vontade de você que meu coração diz que jamais será saciada. Acabei, por fim, escrevendo em incontáveis linhas desta carta “sinto vontade de você”, pensando que havia feito uma de minhas cartas mais sinceras, apesar do vocabulário extremamente simples - apesar de sabermos e concordarmos que a simplicidade torna tudo mais belo.


Assim, termino esta carta, não dizendo que sinto saudade, fato comum em meu dia. Sentir sua falta é tão involuntário quanto respirar, e quando não sinto, é porque fui presenteada com sua presença. Terminarei esta carta dizendo que te sinto nesse coração nada solitário que te pertence desde sempre. Digo-lhe um até logo, com a certeza de que mais cartas escreverei.


Com todo o meu amor,
                             Seu amor.




"Não são poesias, são apelos. Acredite." —
"Não necessitava de cartas amareladas, vocabulário de poeta, flores no café da manhã ou ligações à meia noite. Desejava te ver chegar à qualquer hora - seja em manhã chuvosa na fazenda ou shopping em horário de almoço -, o cenário pouco me importava. Queria te ver, te tocar. Queria você, e só." — 
  Tu eras o típico homem que sentia demais e dizia de menos, enquanto eu era a típica menina que me aquietava tentando sufocar todo meu sentir e passava batom vermelho para me fingir de mulher quando passavas. Entrastes em minha vida à passos lentos, de fininho, quase sem deixar rastro no assoalho, e em pouco tempo já via marcas de mãos na parede, meias jogadas no cesto e sua camisa favorita esquecida no abajur ao lado do sofá. Eu, menina que se maquiava de mulher sempre que estavas a caminho, desistira de tentar enfeitar-me para disfarçar as lágrimas vendo um animal ferido ou adoração por algodão doce. E você deixou de se esconder em sua cara de brabo que dizia não-me-importo-com-isso, e passou a usar aquela cara de você-faz-isso-só-pra-implicar que tanto me faz rir e te abraçar dizendo que se não fosses exatamente como sou, não virias. A chegada que deveria ser de mais um me visita e depois vai embora porque não tem mais chá gelado, ou o café acabou, ou qualquer desculpa que inventam para fugir da minha casa e nunca mais aparecer - tornou-se a chegada de quem mudaria a minha vida. 
Algumas tardes me pego pensando nos motivos para aceitar sua entrada sem mais nem menos em minha casa. Em dias tristes, penso que foi desespero. Já nos dias alegres, penso que meu sexto sentido - como sempre - indicou que era alguém especial. Mas nos dias em que estás presentes, penso que fora o destino, e nada mais poderia fazer além de permitir entrar na casa que era tua desde muito antes de me conhecer. Eu sinto aqueles braços capazes de aquietar minha alma, vejo aqueles olhos que me pedem carinho tão inocentemente, e sinto aquele cheiro capaz de me acelerar o peito, e penso que algo de muito bom fiz nessa vida para encontrar-te em meu caminho. De todos os laços rompidos, cartas queimadas, noites de sexta perdida na ânsia de encontrar alguém minimamente perto de sua perfeita imperfeição, você chegou. Chegou e te quis. Te quis e me quiseste de volta.
Não disseste palavra alguma que me prometesse eternidade, parentesco ou viagens até a lua, mas me fizeste sentir que tudo o que sentia era recíproco, o que por si só, já me levava aos ares. Não fizemos planos à meia luz, mas sei que estou em todos os teus, como estás nos meus. Eu sei que toda a minha lágrima será limpada pelos seus dedos trêmulos de preocupação, assim como sabes que toda sua angústia será sufocada em meu abraço com todo o carinho do mundo. Deixamos para o destino decidir o que fazer conosco. Enquanto ele pensa, nós nos amamos e nos queremos. Você me ensinou da forma mais sorridente e cheia de suspiros que amar é sorrir. E quando me disseste no meio da noite “sussurra o que te faz sorrir”, falei teu nome em voz baixa e sonolenta. Senti seu sorriso iluminar o quarto, e soube que era a resposta certa.(Gabriela Santarosa) 
Tu eras o típico homem que sentia demais e dizia de menos, enquanto eu era a típica menina que me aquietava tentando sufocar todo meu sentir e passava batom vermelho para me fingir de mulher quando passavas. Entrastes em minha vida à passos lentos, de fininho, quase sem deixar rastro no assoalho, e em pouco tempo já via marcas de mãos na parede, meias jogadas no cesto e sua camisa favorita esquecida no abajur ao lado do sofá. Eu, menina que se maquiava de mulher sempre que estavas a caminho, desistira de tentar enfeitar-me para disfarçar as lágrimas vendo um animal ferido ou adoração por algodão doce. E você deixou de se esconder em sua cara de brabo que dizia não-me-importo-com-isso, e passou a usar aquela cara de você-faz-isso-só-pra-implicar que tanto me faz rir e te abraçar dizendo que se não fosses exatamente como sou, não virias. A chegada que deveria ser de mais um me visita e depois vai embora porque não tem mais chá gelado, ou o café acabou, ou qualquer desculpa que inventam para fugir da minha casa e nunca mais aparecer - tornou-se a chegada de quem mudaria a minha vida. 
Algumas tardes me pego pensando nos motivos para aceitar sua entrada sem mais nem menos em minha casa. Em dias tristes, penso que foi desespero. Já nos dias alegres, penso que meu sexto sentido - como sempre - indicou que era alguém especial. Mas nos dias em que estás presentes, penso que fora o destino, e nada mais poderia fazer além de permitir entrar na casa que era tua desde muito antes de me conhecer. Eu sinto aqueles braços capazes de aquietar minha alma, vejo aqueles olhos que me pedem carinho tão inocentemente, e sinto aquele cheiro capaz de me acelerar o peito, e penso que algo de muito bom fiz nessa vida para encontrar-te em meu caminho. De todos os laços rompidos, cartas queimadas, noites de sexta perdida na ânsia de encontrar alguém minimamente perto de sua perfeita imperfeição, você chegou. Chegou e te quis. Te quis e me quiseste de volta.
Tenho me perdido nos confins do tempo. Já não sei mais se sou passado, presente ou futuro. Me perco entre o ciclo acabado e o novo que começa. Vivo meu presente com marcas do passado enquanto corro para o futuro como um animal ferido em busca de ajuda. Tornei-me confusão. Falta-me a pausa, a vírgula - o fôlego que me encoraja a preencher as linhas vazias. Falta-me o ar. Procurei no guarda-roupa, mas só encontrei palavras desconexas que me tornaram ainda mais confusa. Enrolei o tapete, encontrando apenas marcas de poeira feita em páginas novas. Juntei-as com as palavras, formei f(r)ases que me tirassem a confusão. Nada. Ainda me faltava algo. A pontuação! Ora, onde estava? Revirei toda a casa, só encontrei pedaços de mim que me atormentavam. Decidi ir para as ruas. Encontrei você. Nada tinha nos bolsos além de reticências - a continuação jamais terminada. E desde então vivemos assim, eternos.(Gabriela Santarosa) Não disseste palavra alguma que me prometesse eternidade, parentesco ou viagens até a lua, mas me fizeste sentir que tudo o que sentia era recíproco, o que por si só, já me levava aos ares. Não fizemos planos à meia luz, mas sei que estou em todos os teus, como estás nos meus. Eu sei que toda a minha lágrima será limpada pelos seus dedos trêmulos de preocupação, assim como sabes que toda sua angústia será sufocada em meu abraço com todo o carinho do mundo. Deixamos para o destino decidir o que fazer conosco. Enquanto ele pensa, nós nos amamos e nos queremos. Você me ensinou da forma mais sorridente e cheia de suspiros que amar é sorrir. E quando me disseste no meio da noite “sussurra o que te faz sorrir”, falei teu nome em voz baixa e sonolenta. Senti seu sorriso iluminar o quarto, e soube que era a resposta certa.


Tenho me perdido nos confins do tempo. Já não sei mais se sou passado, presente ou futuro. Me perco entre o ciclo acabado e o novo que começa. Vivo meu presente com marcas do passado enquanto corro para o futuro como um animal ferido em busca de ajuda. Tornei-me confusão. Falta-me a pausa, a vírgula - o fôlego que me encoraja a preencher as linhas vazias. Falta-me o ar. Procurei no guarda-roupa, mas só encontrei palavras desconexas que me tornaram ainda mais confusa. Enrolei o tapete, encontrando apenas marcas de poeira feita em páginas novas. Juntei-as com as palavras, formei f(r)ases que me tirassem a confusão. Nada. Ainda me faltava algo. A pontuação! Ora, onde estava? Revirei toda a casa, só encontrei pedaços de mim que me atormentavam. Decidi ir para as ruas. Encontrei você. Nada tinha nos bolsos além de reticências - a continuação jamais terminada. E desde então vivemos assim, eternos.
"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música e quem não acha graça de si mesmo." —
"Ele era… Não sei. Tinha um brilho que vinha lá do fundo da alma, sabe? Um ímã que me atraía e intrigava, tudo ao mesmo tempo. Eu queria tocá-lo, apertá-lo, degustá-lo por inteiro, e sabia que jamais seria o suficiente. Era uma daquelas pessoas que iluminam o mundo só por existir. Palavra alguma teve o poder de encaixá-lo completamente, sempre sobrava algo mais que não poderia ser esquecido. Então pensei que estava sendo real demais, comum demais. Por certo, ele não era real, tampouco comum. Dentro de si morava algo surreal, mágico. Foi então que comecei a chamá-lo de anjo. Meu anjo." —
  Na parede da cozinha o ponteiro do relógio caminha calmamente, alheio à correria que causava e vidas que mudava em apenas um segundo. O olhava e desejava controlar os ponteiros à meu bel-prazer. Acelerar, voltar, até mesmo diminuir o tempo dos segundos. Visitar o passado e me libertar das amarraras que me fizeram ver-te partir. Sentir na pele as sensações daquela manhã chuvosa em que me destes a mão para atravessarmos a rua. Nada me fizeste além de entregar a mão, e senti como se me presenteasses com sua vida. Senti-me dona, finalmente, daquilo que tanto queria. Em poucos segundos, libertou-me a mão, mas permaneci sentindo seu toque por horas.
Se pudesse, retornaria ao momento em que te conheci, só para reviver nossa história. Discutiríamos novamente se a cor de seu casaco era vinho, ou vermelho desbotado, rindo ao final e decidindo que não passava de um casaco. Naquela noite não estava tão frio, e mesmo assim me ofereceu seu casaco-sem-cor, e aceitei - só para sentir seu cheiro de perto. Esqueceria de devolver-lhe, e voltarias admitindo que só emprestara para ter desculpa e me ver. E, como naquela vez meses atrás, agiria com descaso, apesar do pulso acelerado. Em meu íntimo temia desmaiar de contentamento, mas como moça orgulhosa que sempre fui, jamais saberias desta verdade.
Se soubesses que fora pela ausência desse comentário que partirias, jamais o deixaria guardado na gaveta do meu peito. Se soubesse que meus olhos não eram compreendidos em suas declarações à meia noite, traduziria pelos lábios. Nada mais eras do que tudo aquilo que minha vida pedia, e nada mais fui além de uma menina que temeu ter os sentimentos ridicularizados. Precisei ver-te partir para entender que sentimento, para fazer bem, precisa ser dito sem medo ou vergonha. Mas eu, tola, não disse. E você, imprudente, disseste na hora errada. Declarou-se antes do adeus, plantou em meu peito misto de agonia com ilusão de retorno. De todas as minhas recordações tristes, amargas e traiçoeiras, a de sua partida ainda é a que mais dói. O tempo parecia que sabia o resultado daquela conversa, o vento parecia tentar arrancar os telhados e me levar para longe, enquanto os trovões tornavam sua voz quase inaudível. Oh, doce tormento, eles o fizeram gritar. Não bastava dilacerar meu peito, precisava ser aos berros. Nos seus olhos, eu vi, acharás que estava enlouquecida de desespero, mas vi. Enxerguei vontade de dizer naquela sua voz rouca de quanto estás arrependido, que não passara de uma brincadeira e péssimo gosto. Mas como orgulhoso que és, expulsou-o e foi-se embora.
Agora, cá estou, olhando o relógio velho da cozinha, cheia de saudade. Revivendo nossa história todos os dias. Desejando, desta vez, acelerar o futuro, e ver-te cruzar meu caminho mais uma vez. E desta vez, juro-te, não permitirei despedidas.(Gabriela Santarosa) 
Na parede da cozinha o ponteiro do relógio caminha calmamente, alheio à correria que causava e vidas que mudava em apenas um segundo. O olhava e desejava controlar os ponteiros à meu bel-prazer. Acelerar, voltar, até mesmo diminuir o tempo dos segundos. Visitar o passado e me libertar das amarraras que me fizeram ver-te partir. Sentir na pele as sensações daquela manhã chuvosa em que me destes a mão para atravessarmos a rua. Nada me fizeste além de entregar a mão, e senti como se me presenteasses com sua vida. Senti-me dona, finalmente, daquilo que tanto queria. Em poucos segundos, libertou-me a mão, mas permaneci sentindo seu toque por horas.
Se pudesse, retornaria ao momento em que te conheci, só para reviver nossa história. Discutiríamos novamente se a cor de seu casaco era vinho, ou vermelho desbotado, rindo ao final e decidindo que não passava de um casaco. Naquela noite não estava tão frio, e mesmo assim me ofereceu seu casaco-sem-cor, e aceitei - só para sentir seu cheiro de perto. Esqueceria de devolver-lhe, e voltarias admitindo que só emprestara para ter desculpa e me ver. E, como naquela vez meses atrás, agiria com descaso, apesar do pulso acelerado. Em meu íntimo temia desmaiar de contentamento, mas como moça orgulhosa que sempre fui, jamais saberias desta verdade.
Se soubesses que fora pela ausência desse comentário que partirias, jamais o deixaria guardado na gaveta do meu peito. Se soubesse que meus olhos não eram compreendidos em suas declarações à meia noite, traduziria pelos lábios. Nada mais eras do que tudo aquilo que minha vida pedia, e nada mais fui além de uma menina que temeu ter os sentimentos ridicularizados. Precisei ver-te partir para entender que sentimento, para fazer bem, precisa ser dito sem medo ou vergonha. Mas eu, tola, não disse. E você, imprudente, disseste na hora errada. Declarou-se antes do adeus, plantou em meu peito misto de agonia com ilusão de retorno. De todas as minhas recordações tristes, amargas e traiçoeiras, a de sua partida ainda é a que mais dói. O tempo parecia que sabia o resultado daquela conversa, o vento parecia tentar arrancar os telhados e me levar para longe, enquanto os trovões tornavam sua voz quase inaudível. Oh, doce tormento, eles o fizeram gritar. Não bastava dilacerar meu peito, precisava ser aos berros. Nos seus olhos, eu vi, acharás que estava enlouquecida de desespero, mas vi. Enxerguei vontade de dizer naquela sua voz rouca de quanto estás arrependido, que não passara de uma brincadeira e péssimo gosto. Mas como orgulhoso que és, expulsou-o e foi-se embora.
Agora, cá estou, olhando o relógio velho da cozinha, cheia de saudade. Revivendo nossa história todos os dias. Desejando, desta vez, acelerar o futuro, e ver-te cruzar meu caminho mais uma vez. E desta vez, juro-te, não permitirei despedidas.

  Você segurou minha mão enquanto olhávamos as estrelas ouvindo nossa música preferida. Eu queria permanecer ali, pela eternidade. Unida à você por nossos dedos entrelaçados - os olhares cruzados que sussurravam no silêncio da noite as mais belas e sinceras palavras de amor -, meus lábios roçando em seu queixo, sentindo cócegas no rosto pela sua respiração. Respirei fundo e fechei os olhos, pedindo para uma estrela cadente qualquer que estivesse passando em algum lugar deste ou de outros mundos, para, por favor, jamais deixar essa lembrança ser esquecida em uma gaveta qualquer. Eu pedia, por favor, por favor, não me deixe esquecer daquela noite estrelada, daquele olhar terno, daquele sentimento sussurrado pelos ventos. Não tire o cobertor que impede meu coração de congelar nesse inverno, não azede nosso café dividido porque sempre quero experimentar sua xícara e acabo esquecendo completamente da minha. Não solte minha mão enquanto estivermos andando pelo parque dividindo sonhos loucos. Não me faça deixar de pensar que Deus pensou em você quando me fez. Não permita-me pensar que todo o tempo que passamos juntos é puro acaso, brincadeira do destino, ilusão do coração. Continue transformando meu dia com uma mensagem inesperada, um olhar doce, um sorriso terno - que pinta em meu céu nuvens de alegria. Escreva meu futuro junto do teu. Sejas para mim aquilo que sempre fostes: tudo, e um pouco mais. Permaneça até o fim, e nele coloque reticências, novos parágrafos e capítulos. Não permita que acabe. Que sejamos como as estrelas, infinitos.(Gabriela Santarosa) 
Você segurou minha mão enquanto olhávamos as estrelas ouvindo nossa música preferida. Eu queria permanecer ali, pela eternidade. Unida à você por nossos dedos entrelaçados - os olhares cruzados que sussurravam no silêncio da noite as mais belas e sinceras palavras de amor -, meus lábios roçando em seu queixo, sentindo cócegas no rosto pela sua respiração. Respirei fundo e fechei os olhos, pedindo para uma estrela cadente qualquer que estivesse passando em algum lugar deste ou de outros mundos, para, por favor, jamais deixar essa lembrança ser esquecida em uma gaveta qualquer.
Eu pedia, por favor, por favor, não me deixe esquecer daquela noite estrelada, daquele olhar terno, daquele sentimento sussurrado pelos ventos. Não tire o cobertor que impede meu coração de congelar nesse inverno, não azede nosso café dividido porque sempre quero experimentar sua xícara e acabo esquecendo completamente da minha. Não solte minha mão enquanto estivermos andando pelo parque dividindo sonhos loucos. Não me faça deixar de pensar que Deus pensou em você quando me fez. Não permita-me pensar que todo o tempo que passamos juntos é puro acaso, brincadeira do destino, ilusão do coração. Continue transformando meu dia com uma mensagem inesperada, um olhar doce, um sorriso terno - que pinta em meu céu nuvens de alegria. Escreva meu futuro junto do teu. Sejas para mim aquilo que sempre fostes: tudo, e um pouco mais. Permaneça até o fim, e nele coloque reticências, novos parágrafos e capítulos. Não permita que acabe. Que sejamos como as estrelas, infinitos.
  re-a-mar:

Sábio poeta, tu que rabisca as coisas mais lindas sussurradas pelo coração, diga-me, o que é que motiva essa busca incessante de algo que não se pode possuir? Poeta, há algo de divino no azul daquele olhar que me embriaga. Eu não sei mentir, meu caro. Como eu o quero! Navegar na imensidão dos cachos de seu cabelo e me deixar consumir por essa insanidade. As noites passam a fio e a falta que eu sinto no meu peito é grande. Poeta, essa pequena que vos fala não sabe amar. Mas ela não se reprime diante do desconhecido. Este coração é vasto como o oceano e se dispõe a abrigar toda a profundidade destes olhos tão azuis. Poeta, ensina-me a dançar ao som das palavras. Ensina-me a lidar com tão nobre sentimento. Ensina-me a comover os olhos azuis, os caracóis de seus cachos e todo o resto. Ajuda-me poeta, antes que esse amor se consuma em fogo e pólvora dentro de mim. (Descuidada)

Sábio poeta, tu que rabisca as coisas mais lindas sussurradas pelo coração, diga-me, o que é que motiva essa busca incessante de algo que não se pode possuir? Poeta, há algo de divino no azul daquele olhar que me embriaga. Eu não sei mentir, meu caro. Como eu o quero! Navegar na imensidão dos cachos de seu cabelo e me deixar consumir por essa insanidade. As noites passam a fio e a falta que eu sinto no meu peito é grande. Poeta, essa pequena que vos fala não sabe amar. Mas ela não se reprime diante do desconhecido. Este coração é vasto como o oceano e se dispõe a abrigar toda a profundidade destes olhos tão azuis. Poeta, ensina-me a dançar ao som das palavras. Ensina-me a lidar com tão nobre sentimento. Ensina-me a comover os olhos azuis, os caracóis de seus cachos e todo o resto. Ajuda-me poeta, antes que esse amor se consuma em fogo e pólvora dentro de mim.
 "Desejo-lhe sorrisos rasgados, cheios, belos - daqueles que, de tão brilhantes, são capazes de iluminar toda Paris. Desejo-lhe sábados ensolarados e domingos preguiçosos flutuando no mar. Desejo-lhe brincadeiras na grama, perfume das flores e iniciais escritas num tronco de laranjeira. Desejo-lhe beijo, abraço e cafuné. Desejo-lhe beijo na nuca e promessas. Desejo que me desejes de volta. Desejo você." —
 
 "Te pedi um para-sempre. Você preferiu por-enquanto. Ficamos no até-mais. O mais não chegava nunca, e nem você. Foi então que entendi. Nas entrelinhas, até-mais se transformou em adeus." — 
 
"- Tá fazendo o que?
- Lendo um texto que acabei de escrever.
(20 minutos depois)
- E agora, tá fazendo o que?
- Lendo um texto.
- O mesmo?
- Sim
- Por que?
- Quero ver se acredito no que disse. Se viro meu eu-lírico. Se consigo essa coragem. Se eu lendo assim, tantas vezes, memorizo e vira verdade," — 
"Me imaginava vendo-te correr pelo jardim de casa, tomar-me nos braços e apossar-se de meu coração que há muito tem seu nome marcado a ferro. Eu sorriria. Você se desculparia por me fazer esperar. Eu nada responderia, por medo de quebrar o encanto. Mas então o despertador toca, e você desaparece. Suspiro deprimida por saber que nada aquele abraço foi além de sonho, e nada mais é esse dia além de espera." — 
  Carta para o Futuro Idealizado.Escrevo-lhe, futuro, para que em algum momento me encontres e transforme-se em presente. É fato, porém, que não consigo imaginar-te todo mal, assim como não imagino-te perfeito. Afinal, és meu futuro, e de perfeita, jamais tive. Em verdade, imperfeição encaixaria perfeitamente como meu segundo nome - observe a ironia das palavras -, se não soasse tão patético e óbvio conceder a alguém tal sobrenome. Escrevo-lhe na inocente tentativa de despertar tua bondade para dar-me sinais. O passado é tedioso, sombrio e nada quero dele. Mas tu, futuro, me cativa como nada mais nessa vida. Aproveito a deixa e também destino esta carta a meu eu futuro. Que, por favor, torne-se alguém melhor do que esta boba de coração mole que vos escreve.Desde pequena, desejava ser poeta. Observar o mundo de forma ímpar, com ousadia o suficiente para desenhar com palavras todos os meus anseios e faces. Lia em meus cadernos escolares vez ou outra poema sobre amor, e sonhava histórias de menina boba, onde um rapazote - mais conhecido em meu vocabulário por “meu amor” - me dava uma rosa. Então lhe pedirei, com todo o carinho, que não mates esta doce criatura que viveu em minha infância. Não acredites em príncipes encantados, pois contos de fadas são monótonos demais para nós, futura eu. Como bem sabes, gostamos de temporal. Encontre quem, em mãos dadas, faça-te sentir arrepio semelhante aos dos beijos de cinema. Lembre-se que se doar não é sinônimo de se doer, e que te gastar não é sinal de que precisas bater em retirada. Se pensares em amor, recorda-te aquele moço. Não é preciso citar nomes para que saibas, creio que meu futuro ainda terá sua marca, mesmo pequenina. Deseje-lhe o bem de sempre nessa vida, pois eu, teu passado, tenho mais nitidez do presente que vivo do que terás quando leres esta carta. Procure não lembrar-se a tal ponto que te faça procurar por todas as listas telefônicas até encontrar seu número, mas só para que não se engane enquanto grita feito tola aos quatro ventos que todo teu passado foi triste.
Teus amigos você saberá quem são. Sempre tivemos sexto sentido apurado para vermos de longe quem merece nosso apego e quem merece nosso rosto virado. Há muito conheci uma menina furacão, toda aos avessos comigo, ao mesmo tempo em que me trazia a razão. Jamais distancie-a de ti, futuro, pois ela salvou boa parte de teu passado. Também tem aquela festeira que nos abraçou forte numa noite fria e limpou nossas lágrimas enquanto fingia entender nossas dores só para nos sentirmos bem. Se perderes ela de vista, se arrependerá irrevogavelmente. Pois em todas as nossas andanças, jamais encontrará quem deixe o mundo de lado numa sexta à noite só para recolher teus cacos - a não ser ele. Ele, já falaste sobre ele, mas necessito repetir. Cuide bem de nossa memória com aquele que, sozinha, chamávamos de anjo. Muitos passarão por ti, futuro, mas nenhum será como o anjo.
Futuro, peço-te encarecidamente que não tropece nos erros que já cometemos, que não recorde-se feridas cicatrizadas. Faça com que as noites se sentindo um pedacinho de ninguém sem um ombro para se apoiar sejam esquecidas e substituídas por noites com um abraço quente. Preencha os buracos repletos de ausência com todas as coisas boas que vierem - seja um sorriso, seja uma viagem para Roma - , mas jamais deixe buracos abertos. Eles, quando não são fechados com rapidez, transformam-se em crateras. Permaneça sendo a garotinha boba que chora assistindo filmes clichês antigos, mas não permita que ninguém entre em sua vida para fazer-lhe chorar. Futuro, se não puderes ser tudo que desejo, peço-te apenas uma coisa: Seja bom.(Gabriela Santarosa)  Carta para o Futuro Idealizado.


Escrevo-lhe, futuro, para que em algum momento me encontres e transforme-se em presente. É fato, porém, que não consigo imaginar-te todo mal, assim como não imagino-te perfeito. Afinal, és meu futuro, e de perfeita, jamais tive. Em verdade, imperfeição encaixaria perfeitamente como meu segundo nome - observe a ironia das palavras -, se não soasse tão patético e óbvio conceder a alguém tal sobrenome. Escrevo-lhe na inocente tentativa de despertar tua bondade para dar-me sinais. O passado é tedioso, sombrio e nada quero dele. Mas tu, futuro, me cativa como nada mais nessa vida. Aproveito a deixa e também destino esta carta a meu eu futuro. Que, por favor, torne-se alguém melhor do que esta boba de coração mole que vos escreve.


Desde pequena, desejava ser poeta. Observar o mundo de forma ímpar, com ousadia o suficiente para desenhar com palavras todos os meus anseios e faces. Lia em meus cadernos escolares vez ou outra poema sobre amor, e sonhava histórias de menina boba, onde um rapazote - mais conhecido em meu vocabulário por “meu amor” - me dava uma rosa. Então lhe pedirei, com todo o carinho, que não mates esta doce criatura que viveu em minha infância. Não acredites em príncipes encantados, pois contos de fadas são monótonos demais para nós, futura eu. Como bem sabes, gostamos de temporal. Encontre quem, em mãos dadas, faça-te sentir arrepio semelhante aos dos beijos de cinema. Lembre-se que se doar não é sinônimo de se doer, e que te gastar não é sinal de que precisas bater em retirada. Se pensares em amor, recorda-te aquele moço. Não é preciso citar nomes para que saibas, creio que meu futuro ainda terá sua marca, mesmo pequenina. Deseje-lhe o bem de sempre nessa vida, pois eu, teu passado, tenho mais nitidez do presente que vivo do que terás quando leres esta carta. Procure não lembrar-se a tal ponto que te faça procurar por todas as listas telefônicas até encontrar seu número, mas só para que não se engane enquanto grita feito tola aos quatro ventos que todo teu passado foi triste.
Teus amigos você saberá quem são. Sempre tivemos sexto sentido apurado para vermos de longe quem merece nosso apego e quem merece nosso rosto virado. Há muito conheci uma menina furacão, toda aos avessos comigo, ao mesmo tempo em que me trazia a razão. Jamais distancie-a de ti, futuro, pois ela salvou boa parte de teu passado. Também tem aquela festeira que nos abraçou forte numa noite fria e limpou nossas lágrimas enquanto fingia entender nossas dores só para nos sentirmos bem. Se perderes ela de vista, se arrependerá irrevogavelmente. Pois em todas as nossas andanças, jamais encontrará quem deixe o mundo de lado numa sexta à noite só para recolher teus cacos - a não ser ele. Ele, já falaste sobre ele, mas necessito repetir. Cuide bem de nossa memória com aquele que, sozinha, chamávamos de anjo. Muitos passarão por ti, futuro, mas nenhum será como o anjo.
Futuro, peço-te encarecidamente que não tropece nos erros que já cometemos, que não recorde-se feridas cicatrizadas. Faça com que as noites se sentindo um pedacinho de ninguém sem um ombro para se apoiar sejam esquecidas e substituídas por noites com um abraço quente. Preencha os buracos repletos de ausência com todas as coisas boas que vierem - seja um sorriso, seja uma viagem para Roma - , mas jamais deixe buracos abertos. Eles, quando não são fechados com rapidez, transformam-se em crateras. Permaneça sendo a garotinha boba que chora assistindo filmes clichês antigos, mas não permita que ninguém entre em sua vida para fazer-lhe chorar. Futuro, se não puderes ser tudo que desejo, peço-te apenas uma coisa: Seja bom.
 

  “Te precisava aqui. Queria que chegasse de surpresa, na realidade. Me mandasse uma mensagem no celular dizendo: ‘Não vai abrir a porta para mim?’ Ou: ‘Terei que esperar muito tempo mesmo em pé aqui atrás da porta?’ Algo que me arrancasse um sorriso involuntário do rosto, entende? Aquele que só você consegue tirar. Quero me esquentar em você e poder encostar minha cabeça no seu ombro, falando tudo o que aconteceu comigo durante o dia — o que provavelmente não será muita coisa. Quero que deite a cabeça no meu colo para que eu possa te fazer cafuné, mexer em seu cabelo até fechar os olhos. Quero te ver inocente, longe daquele escudo que temos que usar todos os dias ao levantar da cama. Te quero sem nada disso. Te quero puro. Sem armações ou contra-ataques. Quero poder te sentir desprotegido para que eu possa te proteger. Quero te fazer sorrir para sentir aquela sensação boa. Quero te ter em meus braços, em meus abraços. Quero seus olho fixos nos meus, sua mão segurando a minha, seus dedos entrelaçados aos meus. Quero nós dois. Odeio singular. Prefiro plural. Ainda mais se tratando de você — ou de nós. Te preciso todos os dias da minha vida ao meu lado. Te quero todos os dias da minha vida ao meu lado. Quero poder te fazer dormir e ouvir apenas a sua respiração e sentir as batidas do seu coração descompassadas. Quero poder velar por teu sono. Quero poder te acordar na manhã seguinte com beijos carinhosos. Quero te preparar café-da-manhã e enquanto coou café, te sentir me abraçando e beijando minha nuca. Quero sentar à mesa com você, podendo te ver sorrir com os olhinhos inchados de quem acabara de acordar, a voz rouca e o cabelo bagunçado. Quero durante a tarde, tentar fazer meu dever de casa enquanto você ouve música no volume alto no meu computador apenas para me irritar, me obrigando a parar o que estou fazendo para lhe repreender e te sentir me roubar um beijo para que eu me ‘acalme’. Quero poder ir com você ao supermercado andando de mãos dadas na rua, vendo os olhares curiosos das pessoas tentando lembrar de onde te conhecem, sendo que nem conhecem. Quero te comprar um sorvete e nos lambuzarmos por inteiro. Quero que você me assuste enquanto lavo o quintal, apenas para poder te molhar com a mangueira, fazendo com que você a tome da minha mão, molhando à mim. Quero que me abrace, quando ver que estou tremendo de frio pelo fato da água estar gelada e me aqueça com seu corpo também gelado. Quero assistir um filme com você durante a noite, debaixo da coberta, deitada em seu colo te sentindo me fazer carinhos. Quero te beijar durante o filme, obrigando-nos a voltar o filme de onde paramos de assistir para não perder o rumo da história, fazendo isso repetidas vezes. Quero adormecer em seu colo, sendo carregada até minha cama por ti. Quero segurar em seu braço, quando estiveres se afastando te mim, puxando-te para deitar ao meu lado e adormecer ali comigo. Quero poder acordar na madrugada e sorrir, por te ter ao meu lado. Quero te olhar dormindo… Tão anjo, tão calmo, tão vulnerável… Te quero, meu menino. Te quero de todo jeito e maneira possível. Te quero todos os dias possíveis. Te quero com todo humor possível. Te quero, simplesmente pelo fato de amar. De amar você, meu amor.” (Evelyn C.)
Te precisava aqui. Queria que chegasse de surpresa, na realidade. Me mandasse uma mensagem no celular dizendo: Não vai abrir a porta para mim? Ou:Terei que esperar muito tempo mesmo em pé aqui atrás da porta?Algo que me arrancasse um sorriso involuntário do rosto, entende? Aquele que só você consegue tirar. Quero me esquentar em você e poder encostar minha cabeça no seu ombro, falando tudo o que aconteceu comigo durante o dia — o que provavelmente não será muita coisa. Quero que deite a cabeça no meu colo para que eu possa te fazer cafuné, mexer em seu cabelo até fechar os olhos. Quero te ver inocente, longe daquele escudo que temos que usar todos os dias ao levantar da cama. Te quero sem nada disso. Te quero puro. Sem armações ou contra-ataques. Quero poder te sentir desprotegido para que eu possa te proteger. Quero te fazer sorrir para sentir aquela sensação boa. Quero te ter em meus braços, em meus abraços. Quero seus olho fixos nos meus, sua mão segurando a minha, seus dedos entrelaçados aos meus. Quero nós dois. Odeio singular. Prefiro plural. Ainda mais se tratando de você — ou de nós. Te preciso todos os dias da minha vida ao meu lado. Te quero todos os dias da minha vida ao meu lado. Quero poder te fazer dormir e ouvir apenas a sua respiração e sentir as batidas do seu coração descompassadas. Quero poder velar por teu sono. Quero poder te acordar na manhã seguinte com beijos carinhosos. Quero te preparar café-da-manhã e enquanto coou café, te sentir me abraçando e beijando minha nuca. Quero sentar à mesa com você, podendo te ver sorrir com os olhinhos inchados de quem acabara de acordar, a voz rouca e o cabelo bagunçado. Quero durante a tarde, tentar fazer meu dever de casa enquanto você ouve música no volume alto no meu computador apenas para me irritar, me obrigando a parar o que estou fazendo para lhe repreender e te sentir me roubar um beijo para que eu me acalme. Quero poder ir com você ao supermercado andando de mãos dadas na rua, vendo os olhares curiosos das pessoas tentando lembrar de onde te conhecem, sendo que nem conhecem. Quero te comprar um sorvete e nos lambuzarmos por inteiro. Quero que você me assuste enquanto lavo o quintal, apenas para poder te molhar com a mangueira, fazendo com que você a tome da minha mão, molhando à mim. Quero que me abrace, quando ver que estou tremendo de frio pelo fato da água estar gelada e me aqueça com seu corpo também gelado. Quero assistir um filme com você durante a noite, debaixo da coberta, deitada em seu colo te sentindo me fazer carinhos. Quero te beijar durante o filme, obrigando-nos a voltar o filme de onde paramos de assistir para não perder o rumo da história, fazendo isso repetidas vezes. Quero adormecer em seu colo, sendo carregada até minha cama por ti. Quero segurar em seu braço, quando estiveres se afastando te mim, puxando-te para deitar ao meu lado e adormecer ali comigo. Quero poder acordar na madrugada e sorrir, por te ter ao meu lado. Quero te olhar dormindo… Tão anjo, tão calmo, tão vulnerável… Te quero, meu menino. Te quero de todo jeito e maneira possível. Te quero todos os dias possíveis. Te quero com todo humor possível. Te quero, simplesmente pelo fato de amar. De amar você, meu amor. 
 "As palavras, quando expostas num pedaço de papel, tornam-se salvação, declaração - por vezes, ilusão. Elas envolvem com suas letras e intensificam os sentidos. As palavras, quando expostas num pedaço de papel, tornam-se mágicas." —
 
 "Me agradava imensamente encaixar o destino e você na mesma frase. Via como uma promessa." — 
 "Perdoe-me pelos planos frustrados, os sonhos despedaçados e o café frio esquecido na mesa. Perdoe-me o desapego forjado, o sorriso reprimidor de lágrimas e as verdades escondidas na gaveta. Perdoe-me por amar-te e pelas tolices que esse amor obrigou-me a cometer. Se servir moeda de escambo para o perdão, prendo esse amor no porão de minha casa, privo-o de alimento, assassino-o. Mas, por favor, perdoe-me, e não diga adeus. Peço mil vezes se quiseres. Perdoe-me, perdoe-me, doe-se…" —

Você me encanta menina, de verdade, me encanta. Me lembro da primeira reação que tive ao ler um texto teu… algo como ‘até que enfim, até que enfim algo que vale a pena ler’, e depois fiquei aqui te observando de longe. E vendo tú quebrar pouco a pouco com a ideia de perfeição (muito cabível, diga-se de passagem) que se forma ao teu redor, pelo que tú escreves, pelo teu eu-lírico belíssimo.E hoje te admiro ainda mais. Quanta beleza, quanta simplicidade! É leve e tem opinião. É humana demais, mas escreve como um anjo. É bonita e é bonita. Te admiro viu? É isso, te admiro. Não sai daqui nunca não, quero te ler sempre." —
  Tanto imaginei tua chegada que, por vezes, sentei na laranjeira em frente à minha casa e esperei, esperei e esperei. A noite caía e o vento testava-me a paciência enquanto meus braços se arrepiavam e tremiam de frio, e ainda assim aguardava, lutando com a fraca luminosidade daquela rua úmida. Por vezes ouvi passos e me ouricei, arrumei o penteado e me empertiguei procurando mentalmente uma desculpa qualquer para estar sentada em uma árvore no meio da noite, imaginando se acreditarias que aquilo era o acaso. Chegarias em meu portão com seu passo atento, e estarias usando aquela camisa azul marinho que tanto me encanta por contrastar com tua cor marfim. Tentaria - em vão - esconder tua surpresa ao encontrar-me ali, enquanto eu tentaria fazer aquele ar despreocupado que as damas faziam nos filmes, como se estivesse me encontrado em uma festa de gala, não no meio da noite em uma rua escura sentada numa laranjeira. Soltaria um leve pigarro pensando no que dizer, terminando apenas com um resmungo dizendo: Hey, aí está você! E eu, como menina sem graça que me transformo sempre que estás presente, responderia-te: É, aqui estou eu.  
Em quase todas as minhas ilusões, prefiro pensar que pararias à minha frente e me abriria os braços, perguntando se me importarias que me aqueceste agora e sempre. Então desceria daquela dura laranjeira e correria diretamente para seus braços, pedindo para que jamais ousastes partir. E você atenderia meu pedido. Mas não, hoje não. Hoje estava em um de meus dias semi-realistas - se fosses completamente realista, não estaria naquela árvore, é bem verdade -, e preferi manter o que aconteceria se voltasses. Um silêncio constrangedor nos envolveria, até alguém tomar alguma atitude - o que, de fato, seria você.- O que faz aqui? - Indagaria franzindo a testa com os lábios curvados em sinal claro de divertimento.- Ora, o mesmo que fazes! - Cruzaria os braços, como mandaria meu lado de menina birrenta que também tens o poder de despertar.- Ah, então está vindo falar consigo? - Ele claramente segurava o riso, e fracassava debilmente em fazê-lo.- É claro que não! - Revirei os olhos e olhei-o com o olhar de tédio, sentindo-me ótima atriz - Apenas estou observando as estrelas.Ele olhou rapidamente para cima e voltou seus olhos para mim, senti que procurava um toque de insanidade em mim, mas estava nervosa demais para prestar atenção.- Mas hoje o céu não tem estrelas… 
Sorri gentilmente, já sem esconder qualquer sentimento que sentia. Me permitindo, por um segundo que fosse, demonstrar esse amor que me devora e alimenta, e respondi:- Não, meu amor, elas acabaram de voltar.Em meio à tantos sonhos, vejo que os som vindo da rua não passa de um desconhecido andando apressadamente pela calçada. Com pressa de viver a vida, pensei com pesar. Coisa essa que parara de fazer apenas para ver-te chegar. Não mentirei, às vezes sou tomada por vontade de rasgar a página e escrever outra história, mas sei que sem você, não passarei de um conto morno em um livro empoeirado no meio da biblioteca. E ouço uma vozinha sussurrando de dentro do meu peito que valerá à pena. Só peço-lhe para que não se esqueça desta garota sentada nessa laranjeira, que todos os dias enfrenta a natureza e a si mesma, só para não desistir desse amor que sente por ti. Só peço-lhe para que não renuncie aquilo que te pertence, e não transforme esta pobre garota em uma gota de água no teu vasto rio. Só peço-lhe para que voltes logo, antes que esta pobre garota se canse de tanto esperar, e desista de chamar teu nome.(Gabriela Santarosa) 
Tanto imaginei tua chegada que, por vezes, sentei na laranjeira em frente à minha casa e esperei, esperei e esperei. A noite caía e o vento testava-me a paciência enquanto meus braços se arrepiavam e tremiam de frio, e ainda assim aguardava, lutando com a fraca luminosidade daquela rua úmida. Por vezes ouvi passos e me ouricei, arrumei o penteado e me empertiguei procurando mentalmente uma desculpa qualquer para estar sentada em uma árvore no meio da noite, imaginando se acreditarias que aquilo era o acaso. Chegarias em meu portão com seu passo atento, e estarias usando aquela camisa azul marinho que tanto me encanta por contrastar com tua cor marfim. Tentaria - em vão - esconder tua surpresa ao encontrar-me ali, enquanto eu tentaria fazer aquele ar despreocupado que as damas faziam nos filmes, como se estivesse me encontrado em uma festa de gala, não no meio da noite em uma rua escura sentada numa laranjeira. Soltaria um leve pigarro pensando no que dizer, terminando apenas com um resmungo dizendo: Hey, aí está você! E eu, como menina sem graça que me transformo sempre que estás presente, responderia-te: É, aqui estou eu.  
Em quase todas as minhas ilusões, prefiro pensar que pararias à minha frente e me abriria os braços, perguntando se me importarias que me aqueceste agora e sempre. Então desceria daquela dura laranjeira e correria diretamente para seus braços, pedindo para que jamais ousastes partir. E você atenderia meu pedido. Mas não, hoje não. Hoje estava em um de meus dias semi-realistas - se fosses completamente realista, não estaria naquela árvore, é bem verdade -, e preferi manter o que aconteceria se voltasses. Um silêncio constrangedor nos envolveria, até alguém tomar alguma atitude - o que, de fato, seria você.


- O que faz aqui? - Indagaria franzindo a testa com os lábios curvados em sinal claro de divertimento.


- Ora, o mesmo que fazes! - Cruzaria os braços, como mandaria meu lado de menina birrenta que também tens o poder de despertar.


- Ah, então está vindo falar consigo? - Ele claramente segurava o riso, e fracassava debilmente em fazê-lo.


- É claro que não! - Revirei os olhos e olhei-o com o olhar de tédio, sentindo-me ótima atriz - Apenas estou observando as estrelas.


Ele olhou rapidamente para cima e voltou seus olhos para mim, senti que procurava um toque de insanidade em mim, mas estava nervosa demais para prestar atenção.
- Mas hoje o céu não tem estrelas… 
Sorri gentilmente, já sem esconder qualquer sentimento que sentia. Me permitindo, por um segundo que fosse, demonstrar esse amor que me devora e alimenta, e respondi:
- Não, meu amor, elas acabaram de voltar.


Em meio à tantos sonhos, vejo que os som vindo da rua não passa de um desconhecido andando apressadamente pela calçada. Com pressa de viver a vida, pensei com pesar. Coisa essa que parara de fazer apenas para ver-te chegar. Não mentirei, às vezes sou tomada por vontade de rasgar a página e escrever outra história, mas sei que sem você, não passarei de um conto morno em um livro empoeirado no meio da biblioteca. E ouço uma vozinha sussurrando de dentro do meu peito que valerá à pena. Só peço-lhe para que não se esqueça desta garota sentada nessa laranjeira, que todos os dias enfrenta a natureza e a si mesma, só para não desistir desse amor que sente por ti. Só peço-lhe para que não renuncie aquilo que te pertence, e não transforme esta pobre garota em uma gota de água no teu vasto rio. Só peço-lhe para que voltes logo, antes que esta pobre garota se canse de tanto esperar, e desista de chamar teu nome.
 
"A vida tem sua própria sabedoria. Quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar o broto a sair da semente o destrói. Há certas coisas que têm que acontecer de dentro para fora." 

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá
O encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus
Me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus
Já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais larirurá
Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor
E só se pode achar
Que a luz dos olhos meus
Precisa se casar
" — Vinicius de Moraes 
 

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